Alice in Borderland || 2020 - 2025
Quando começamos a apostar nossa própria alma utilizando o baralho da existência...
Olá, amores! Mila aqui e irei tentar dar uma opinião resumida sobre a série japonesa Alice in Borderland. Já falamos sobre o começo há anos atrás e vocês podem conferir aqui.
Quando Alice in Borderland estreou na Netflix em 2020, tivemos aquele gostinho de enredo conhecido, que vinha com todo o caos que, na época, me prendia muito: pessoas comuns são transportadas para uma Tóquio deserta, onde jogos mortais decidem quem sobrevive. O que poderia ser apenas mais um thriller de sobrevivência se transforma em uma reflexão profunda sobre o valor da vida, culpa, empatia e o desespero humano diante do vazio. Ao longo de suas três temporadas, a série adapta o mangá de Haro Aso com intensidade crescente, mas também com variações no ritmo e na profundidade emocional, culminando em um encerramento tão simbólico quanto controverso.
Na primeira temporada, Arisu (Kento Yamazaki), um jovem sem direção e afogado em fracassos, vê sua falta de sentimentos ser confrontada quando sua vida e de seus amigos acaba mudando completamente por causa dos jogos. Os traumas causados nesse início de drama são o estopim para sua mudança. A atmosfera dessa fase inicial é claustrofóbica, repleta de tensão e jogos inteligentes que exploram lógica, sacrifício e traição.
Já Usagi (Tao Tsuchiya), solitária e resiliente, surge como contraponto emocional e a conexão entre eles não é romântica só por ser, mas é construída na dor e na confiança forçada. Aqui, o ponto alto é o equilíbrio entre ação e reflexão: somos provocados a encarar o que faríamos para sobreviver.
Já a segunda temporada amplia o universo e, com ele, a complexidade moral. Agora, as cartas não representam apenas desafios individuais, mas ideologias. Personagens como Niragi (Dori Sakurada), Kuina (Aya Asahina) e Chishiya (Nijiro Murakami) ganham camadas inesperadas, mostrando que vilões e heróis existem apenas na superfície. Alguns jogos se tornam mais elaborados, outros mais cruéis, mas a série começa a desacelerar em alguns momentos, apostando mais em debates existenciais do que na adrenalina constante. Ainda assim, é aqui que o enredo consolida seu maior mérito: humanizar antes de eliminar.
A terceira e última temporada chega com o peso das expectativas que, eu mesma, me fiz criar. Ao mesmo tempo em que oferece respostas como sobre o que é a Borderland, por que os jogos existem, e qual o destino dos sobreviventes... a série faz isso de forma mais metafórica do que literal. O que até entendo depois do final da segunda temporada, mas ao mesmo tempo que parece genial, também pode gerar frustração em muitos (ou até uma mistura dos dois, como foi para mim).
O ritmo oscila, especialmente nos episódios centrais, com diálogos longos e repetitivos que às vezes paralisam a narrativa. Ainda assim, quando foca no dilema de escolhas, a série retoma sua força emocional. Usagi e Arisu são o coração desse encerramento por representarem a coragem de viver apesar da dor. O final, polêmico para alguns, faz sentido dentro da lógica da série que não busca agradar, mas provocar.
Porém, com um pequeno spoiler: (leia abaixo apenas se quiser ou pule para a proxima)
Além disso, alguns dos jogos apresentados nesta fase final perdem o impacto estratégico das temporadas anteriores. Eles parecem menos orgânicos e mais artificiais, como se fossem movidos mais pela necessidade de chocar do que pela lógica do próprio mundo. Isso, somado a personagens com desenvolvimento mais limitado, contribui para uma sensação de forçação e quebra de imersão.
Visualmente, a produção sempre foi ambiciosa. A Tóquio vazia continua impactante, os efeitos são mais refinados e os jogos de cartas recebem adaptações até que convincentes, apesar de uma sensação de correria nessa fase final. Kento Yamazaki está incrível, equilibrando fragilidade e determinação, enquanto Tao Tsuchiya é o pilar emocional da narrativa, apesar do jeito discreto que sempre senti que era facilmente abafado por outras personalidades.
A série é, acima de tudo, sobre sobrevivência emocional. Sobre como a vida, fora ou dentro dos jogos, também exige escolhas cruéis. Às vezes, continuar vivendo é a mais difícil delas. Há falhas, especialmente no andamento da última temporada, que por vezes sacrifica urgência pela filosofia. Ainda assim, é impossível negar a ousadia, a estética e a forma intensa como nos faz questionar o valor da existência.
Para mim, a série poderia ter terminado na segunda temporada, apesar de deixar alguns questionamentos e situações em aberto. Considero a terceira uma boa conclusão que poderia ter sido melhor executada, mas ainda assim fechou a série com maestria e cheio de simbolismo.





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