Um Filho Perigoso (2018)

 



Pensar no documentário Um Filho Perigoso (A Dangerous Son) é ter a certeza de que o comportamento de uma criança não é formado exclusivamente pela educação dos pais e que outros fatores, que fogem ao controle, podem ter um papel maior em ações consideradas inaceitáveis perante a sociedade. Quando os filhos apresentam uma conduta tão violenta, alimentada por doenças mentais graves, a ponto de colocar a vida dos outros em risco e o sistema falha... Para quem os pais devem pedir ajuda?


Impactando os expectadores logo nos primeiros minutos, as cenas filmadas trazem a triste realidade de três famílias em crise que tentam proporcionar um bom futuro aos filhos enquanto enfrentam os olhares julgadores da sociedade e o descaso do sistema. Inicialmente acompanhamos Ethan, um garoto de 10 anos, que acaba de ser contrariado pelo tio e não consegue controlar a raiva, descontando sua fúria na irmã mais nova enquanto a mãe tenta acalmá-lo. Esta cena agressiva me gerou certa revolta, porque não havia buscado saber do que se tratava a obra. Por isso deixo o aviso de que o intuito é mostrar o cotidiano da família sem influência externa.

Ethan em um acesso de fúria

A obra também traz os relatos de vários pais sobre como é frustrante e cansativo ter as pessoas os aconselhando como educar os filhos e os desafio de ter um filho assim. Além disso, o documentário aborda a desinstitucionalização psiquiátrica, onde o Estado busca economizar através da redução de leitos enquanto propõe que as pessoas passem pelo tratamento inseridas na comunidade, ao mesmo tempo não garantindo o apoio adequado aos familiares.


Por conseguinte, acompanhamos o drama de Edie, mãe de William, e o desejo do filho de retornar para o lar após meses em tratamento. É praticamente impossível não ver a dor nos olhos do jovem por estar longe de casa e se sentir indesejado. Simultaneamente, entendemos a necessidade de Edie de chamar a polícia para o próprio filho quando este dissocia da realidade e se torna um perigo para a família.


"Dizem ser a coisa pior e mais triste que já fizeram. Chamar a polícia para disciplinar o próprio filho que não podem controlar, para eles, é o maior dos fracassos."


Um Filho Perigoso expõe como doenças mentais em crianças são difíceis de diagnosticar e como, comumente, os diagnósticos vem por meio de chutes médicos sobre qual medicamento vai funcionar. Ainda mostra que culpamos os pais por seus filhos problemáticos, especialmente quando os comportamentos são vistos como uma falha na educação. É mais fácil obter apoio quando a doença é física do que quando é mental. 


Ah, só para constar, a doença mental não leva a violência, ok?


Este documentário sensível e denso, se encontra na HBO, vai te deixar indignado e triste por só existirem medidas paliativas. Porém é necessário a todos, que tenham filhos ou não.

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