A Dublagem é boa! O fandom a corrompe?



Olá pessoas da internet, Thiago, teu miasma favorito de plantão, está voltando aqui mais uma vez para abordar mais uma camada desse universo das produções de animes no Brasil! Hoje, em especial, quero falar um pouco de algo pelo qual nosso país é reconhecido e, mesmo com tal reconhecimento, ainda existem muitas críticas voltadas a esse segmento dentro dos animes… Gostaria de falar das dublagens!

A dublagem de animes no Brasil sempre foi um tópico controverso entre os fãs da animação japonesa. Embora existam alguns grandes nomes da dublagem brasileira que se dedicam a esse trabalho, muitos fãs não estão satisfeitos com o resultado final. A dificuldade na localização dos diálogos e a desaprovação dos fãs são alguns dos principais problemas enfrentados pela indústria.



Uma das maiores dificuldades na dublagem de animes é a adaptação dos diálogos para a língua portuguesa. Muitas piadas e comentários originais podem se perder uma vez que se utilizam de trocadilhos, ditados, referências e até fonética japonesa. Alguns termos japoneses não têm um equivalente exato em português, o que torna o trabalho de localização ainda mais complexo. Além disso, a tradução dos diálogos precisa ser feita com muita precisão para garantir que o sentido original seja preservado, mas muitas vezes os diretores de dublagem ganham liberdade para dar uma certa brasilidade ao contexto da obra. Talvez alguns nostálgicos dos anos 90 se lembrem da dublagem de YuYu Hakusho, frases como "Tá chamando Urubu de meu loro” e “Você é grande, mas não é dois e eu sou pequeno, mas não sou metade” ficaram marcadas. Frases que aconteciam com tanta recorrência que chegavam até a alterar a personalidade original das personagens mas, que ainda assim, entregaram para o público da época uma qualidade e uma identidade única que tornou-se referência pela forma que foi feita a localização.




Apesar desses desafios, há dubladores brasileiros que se destacam por seu trabalho em animes. Wendel Bezerra é famoso por dublar o Goku em Dragon Ball Z e o Bob Esponja na versão brasileira da animação. E tem também o Guilherme Biggs, um dublador que está marcado como vozes importantíssimas de nossa infância com Samurai Jack, Megas XLR, Freakazoid! e o Cosmo em Padrinhos Mágicos. Ou seja, alguém com experiência e cacife . Esses dubladores são admirados pelos fãs e reconhecidos por seu trabalho de qualidade.



No entanto, nem todos os dubladores são bem recebidos pelos fãs de animes. Muitos fãs reclamam da escolha de dubladores que não se encaixam com a voz original do personagem ou que não têm o tom adequado para transmitir a emoção correta. Além disso, algumas vezes a comoção é tanta que os fãs até alteram o processo de dublagem. Foi o que aconteceu com Naruto na primeira versão da obra dublada quando houve comoção com relação a pronúncia do nome do personagem Sasuke. Enquanto a direção de dublagem naquele momento havia decidido manter a pronúncia abrasileirada onde o nome soaria exatamente como se escreve “SA-SU-KE”, os fãs clamaram para que a dublagem mantivesse a pronúncia original japonesa onde o nome soaria como os fãs conhecem “SAS-KE”. Nesse caso, os fãs se mobilizaram e a comoção foi tamanha que os episódios onde a dublagem já tinha sido feita utilizando o nome abrasileirado foram redublados… Ok, ponto para os fãs! Mas, em algumas ocasiões, as coisas saem de controle de tal forma que o fandom simplesmente se perde em meio às suas próprias exigências e atitudes, como foi no caso de Guilherme Briggs em Chainsaw Man


Nesse caso o buraco é muito mais embaixo pois, para entender ele por completo, é necessário algum contexto. Chainsaw Man, como boa parte dos mangás que ganham fama aqui no Brasil, foi traduzido de forma não oficial por um SCAN que basicamente é um grupo de fãs organizados que pegam as imagens da obra em sua língua original e a traduzem para o português. Mas o mesmo problema da localização de uma dublagem japonesa reaparece em uma tradução do japonês para o português (algumas vezes há traduções de traduções como do japonês para o inglês e então do inglês para o português). Nem sempre as piadas, a fonética e a referência se enquadram no idioma, então muitas vezes existe uma escolha da tradução não oficial de deixar o termo na língua do original e deixar uma nota de rodapé explicando. Em uma mídia tal como um mangá isso pode até ser possível e plausível, mas não aconteceria em uma dublagem. Ainda assim, muitos SCANS optam por adaptar o texto da forma que lhes parece mais correto e, no caso de Chainsaw Man, houveram muitas liberdades criativas na adaptação dos diálogos originais, dando uma personalidade a obra diferente até mesmo do que o material original dava.


Essa personalidade única angariou seus fãs e com isso a expectativa de ver uma dublagem que respeitasse essa tradução (mesmo que a tradução em si alterasse o tom da obra original) foi ficando cada vez mais latente depois do anúncio e, em especial, pela frase específica de um personagem que virou uma grande piada para o fandom, um meme. Tal frase é dita por um demônio que tem a habilidade de ver o futuro, a tradução feita pelo SCAN dessa frase foi dita como “O FUTURO É PIKA!”. Existe aqui uma conotação humorística e foi uma escolha do SCAN colocar esse sentido na  frase.




Quando a versão legendada do anime saiu, a frase foi colocada como “O futuro é top!” e, apesar dos pesares, o fandom não se importou muito com a legenda. Porém, na versão dublada do episódio onde a dita frase é citada em português, por uma escolha da direção de dublagem, colocaram a frase como “O futuro é show de bola”. Eu entendo a decepção em virtude de uma expectativa gerada por um grupo de pessoas que esperavam ver “O Futuro é Pika” nas telas, mas a reação a isso foi desproporcional, injusta, violenta e nojenta. Desde ofensas descabidas ao Briggs (que diga-se de passagem não foi quem escolheu o que seria dito ou não naquele contexto), até ameaças e tentativas de hackear a conta do dublador no twitter. Ações que foram repudiadas por muitos, inclusive pelo próprio SCAN que fez a tradução originalmente! 



Com todo esse hate, Briggs acreditou que o mais saudável para si seria se distanciar da dublagem de um anime cujos fãs reagem dessa forma a questões que os desagradam. Uma tristeza para o elenco de Chainsaw Man que perdeu um dos melhores dubladores do Brasil por conta de uma atitude desproporcional, birrenta e estúpida de um grupo.

Em conclusão, a dublagem de animes no Brasil é um trabalho que envolve muitos desafios, desde a adaptação dos diálogos até a escolha dos dubladores. Embora existam alguns profissionais que se destacam por seu trabalho de qualidade, muitos fãs ainda não estão satisfeitos com o resultado final. 

É importante que a indústria de dublagem continue trabalhando para melhorar a qualidade do trabalho e atender às expectativas dos fãs de animes. Porém, é necessário da parte dos fãs entenderem as dificuldades desse processo e, acima de tudo, compreenderem a forma de se manifestar quando algo não agrada.

Os dubladores são pessoas que estão sob contrato cumprindo um trabalho, algumas vezes eles têm autonomia durante as dublagens mas, existe um roteiro e um diálogo já previamente escrito e atacar o dublador não muda como são feitas, não muda decisões de adaptações e localizações e só torna a vida desses profissionais mais complicadas.

Pontuar as falhas da adaptação e até mobilizar os fãs a não consumirem a dublagem que não se adequa ao esperado pode ser uma via. Mas, lembrem-se tudo com muito respeito e com críticas embasadas e não só ódio desesperado e pueril. 

Alguma dublagem já marcou a memória de vocês? Alguma voz que lhe encantou? Diz aqui pra gente!

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