Ubik - PKD





Olá amigues da Internet! Teu miasma favorito, Thiago, voltou após conflitos psíquicos para falarmos de mais uma obra de nosso queridinho da ficção científica Philip K. Dick, PKD para os íntimos.

Já falei de outras obra de PKD por aqui e sempre ressalto sua habilidade sorrateira de construir sua trama de forma a cativar os leitores desavisados e, talvez, eu não tenha exaltado o suficiente sua habilidade narrativa. Mas, ao falarmos das obras dele, eventualmente teríamos de passar por essa pérola rara.
Ubik é um livro que destoa do ritmo usual do autor e é um livro complicado e confuso; Porém, se você mantiver seu foco é provavelmente uma das melhores histórias de K. Dick.

A história se passa no longínquo futuro de 1992 ou seja, precisam considerar que o livro foi escrito na década de 60. Nesse futuro, a humanidade desenvolveu uma espécie de tecnologia capaz de deixar as pessoas em um estado de “Meia-vida”. Basicamente, após o falecimento de alguém é utilizada dessa tecnologia para captar a energia residual do corpo e colocar a mente do falecido em contato com pessoas vivas por um tempo limitado.
Se isso fosse o único ponto da trama já seria extremamente interessante. Porém, no contexto de Ubik temos também indivíduos com capacidades de esper (seres que conseguem utilizar telepatia, telecinese, dentre outras habilidades paranormais). Tais seres podem ser um problema para a sociedade então surgem empresas como a Runcinter e Associados, dirigida por Glenn Runcinter, que têm como função lidar com situações e pessoas que estejam sob influência ou utilizando tais habilidades.

O início da trama real se dá quando Glenn, junto de sua equipe composta também por Joe Chip e Pat Conley, vão em expedição para uma importante missão na Lua onde um atentado ocorre e uma explosão atinge a equipe.
Ubik é um livro de narrativa simples, mas de diálogo complexo. A progressão do livro após o atentado é frenética. K. Dick possui um estilo de escrita em que deixa de lado o desenvolvimento das personagens para propor uma discussão filosófica na trama. E esse estilo se faz bem presente dentro da obra pois em menos de 300 páginas, consegue dialogar sobre misticismo, religião e ficção científica.

Existe sim um protagonismo. A narrativa nos conduz ao viés de Joe Chip, mas ele não é um modelo de protagonismo heróico. Joe é uma personificação bem humanizada de um ser humano inseguro e consumista, beirando uma patologia. Seu descontrole financeiro é apontado com certa constância ao longo da história e isso é uma crítica interessante de ser notada pois o cerne de Ubik, ao meu ver, está em uma discussão sobre materialismo e vida pós morte, e não é uma suposição aleatória considerando que PKD tem como hábito utilizar de abordagens filosóficas em suas narrativas.

Ubik foi escrito na mesma década em que a vertente filosófica de Transhumanismo (também conhecido como h+) ganhou forma. Nessa vertente, a principal questão está na extensão da vida humana através da tecnologia. Então, acho natural que PKD tenha se inspirado bastante nesse conceito para desenvolver a trama de Ubik.
Mas, no geral, a história tem um dinamismo coerente e concreto, permeado com um ar quase de ficção policial e devido a desenvoltura típica do autor, acabamos rapidamente tragados para essa ambientação um tanto quanto melancólica e distópica, porém extremamente instigante.

Ubik é um livro complicado, ele tem suas facilidades e suas dificuldades. Não recomendo como uma obra de introdução ao autor ou à ficção científica como um todo, mas acho que não é complexo a ponto de amedrontar leitores inexperientes. Grande parte da história é explicada de forma bem orgânica, e mesmo alguns termos um tanto quanto exclusivos do universo de PKD acabam sendo incorporados de forma que a contextualização é suficiente para decifrar o significado.

Deixo a minha recomendação a essa obra que fala do distante “Futuro” da década de 90 à todos que procuram uma trama misteriosa e com boas reviravoltas!

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