Remissão da Pena - Patrick Modiano




Olá Amigxs da Internet, teu miasma de plantão, Thiago, novamente veio para participar do desafio de 1 livro por mês do blog Coisinhas da Juh.

"Moramos mais de um ano na Rue du Docteur-Dordaine. As estações se sucedem em minha memória. No inverno, na missa do galo, fomos meninos do coro na igreja do vilarejo. Annie, a pequena Hélène e Mathilde assistiam à missa. Branca de Neve passava o Natal com a família. Na volta, encontramos Roger Vincent na casa e ele nos disse que alguém nos aguardava na sala de estar. Entramos, meu irmão e eu, e vimos sentado na poltrona de tecido florido perto do telefone, o Papai Noel. ele não falava. Estendia a cada um, em silêncio, pacotes embrulhados em papel prateado. Mas não tínhamos tempos de desembrulhá-los. Ele se levantava e nos sinalizava para segui-lo."

Hoje vim falar a respeito de um livro que estava encalhado em minha estante e resolvi tomar vergonha na cara para ler.
O autor ganhou o Nobel de literatura em 2014 e, em 2015, esse livro veio parar em minha estante. Logo com uma capa em preto e branco, com as árvores secas e um sol ofuscado por nuvens... o livro havia ganhado a minha atenção, pois o teor melancólico acaba sendo um atrativo natural para mim. Porém, por razões não muito claras para meu eu presente, meu eu passado decidiu que não leria esse livro naquele momento e isso se postergou até esse ano, quando novamente o acaso me levou a pegar o livro em mãos e dessa vez tratá-lo com o merecido respeito.

A história é uma mescla de biografia com ficção onde Modiano nos leva à uma Paris pós segunda guerra onde Patrick e seu irmão são confiados às amigas de seus pais e a narrativa se dá nesse tom de crescimento dos dois irmãos e desenvolvimento lento.

Considerando o estilo narrativo bem descritivo, o processo de imersão no contexto do autor é natural, justamente por se tratar de uma narrativa biográfica. Ou seja, os diálogos e trejeitos são embasados em um empirismo incontestável.

Mas, apesar da melancolia intrínseca ao contexto da obra, a percepção da personagem para com o ambiente ao seu redor é impelida por uma inocência pueril que nos compele a contemplação de cenas de extrema delicadeza e sensibilidade.
A escrita de Modiano não só se mune de uma técnica impecável, como também de toda uma bagagem que atinge diretamente nosso emocional.

Não seria exagero dizer que existe um ar existencialista na obra, um questionamento da realidade em si, pois algumas lacunas carecem de resoluções, mas não pesam no fechamento.
Talvez pela poética que impele ao leitor de tomar a leitura como uma novela e não como uma biografia.

Por fim, o que posso dizer é que talvez o momento certo para essa leitura tenha sido realmente meu presente. Há quatro anos atrás, talvez me faltasse um olhar crítico para captar as delicadezas dessa narrativa.

O que me faz pensar que talvez seja hora de revisitar outros títulos parados na estante… Vocês também deveriam tentar.

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