MegaloBox E o Desafio de interpretar uma obra consagrada




Sinopse: MegaloBox, projeto original inspirado em Ashita no Joe, do escritor Ikki Kajiwara e do ilustrador Tetsuya Chiba. O projeto faz parte da celebração do 50º aniversário do mangá original. O mangá foi publicado em 1968 e 1973, com um total de 20 volumes. 
Em comemoração ao 50° aniversário do projeto Ashita no Joe, Megalo Box conta a história de JD (Junk Dog) e suas participações em lutas ilegais de boxe até o encontro de uma determinada pessoa no ring, a qual ele aceita arriscar tudo em troca do desafio. 

Formato: Anime
Genero: Ação , Drama , Esporte
Autor: TMS Entertainment
Direção: You Moriyama
Estudio: TMS Entertainment
Inspirado no manga: Ashita no Joe de Ikki Kajiwara e Tetsuya Chiba

Megalobox chegou em 2018 com uma responsabilidade bem grande. A série se anunciou como uma spinoff de Ashita no Joe, e para os fãs do gênero de esporte dentro de animes, isso corresponde a se comprometer com uma missão impossível. Talvez Ashita No Joe seja um dos mangás mais reverenciados do gênero, e com razão, pois possui um desenvolvimento exemplar de personagens, vários momentos épicos e um retrato bem fiel do Japão pós segunda guerra mundial. Definitivamente, Ashita no Joe explora os mais profundos pontos dentro de sua obra com calma e dedicação!
Talvez por isso minha fé em que Megalobox pudesse contemplar o clássico dos anos 70 de 79 episódios em apenas 13 tenha sido abalada, apesar de que Megalobox consegue sim aumentar as expectativas.




O estilo de traço escolhido, o Design de personagens, a trilha sonora, tudo em Megalobox foi pensando para manter os fãs com os olhos e ouvidos na tela. Claro que as inúmeras referências a obra original acabam pedindo por comparação, e talvez esse tenha sido o maior erro do anime.
Existe algo muito delicado quando vamos reinterpretar uma obra consagrada.
Se Megalobox tivesse se lançado como um anime original apenas lançando algumas referências e Easter eggs de Ashita no Joe, os olhares críticos recairiam de forma diferente, pois como a obra se declarou abertamente um spinoff totalmente inspirado em Ashita No Joe, os fãs do gênero vão constantemente comparar as personagens, as lutas e os diálogos. Em suma, a obra fica presa a ser tão icônica quanto a original e isso pode tirar um pouco da atenção ao fato de que, apesar de essencialmente semelhante, uma obra é diferente da outra.


Falando mais afundo sobre Megalobox, temos esse futuro onde a tecnologia tem avançado e até dentro de um esporte como boxe, os lutadores tem contado com um exoesqueleto para lutas oficiais. Somos introduzidos ao personagem principal, Junk Dog, que participa de lutas clandestinas onde seu técnico, Gansaku, o obriga a perder as lutas para participar do esquema de apostas da casa.
Nesse ponto já temos algo bem destoante da obra original. Apesar da semelhança da origem humilde das personagens, o técnico Gansaku que é bem semelhante fisicamente ao Danpei de Ashita No Joe, é totalmente diferente em personalidade.
Mais tarde em um episódio é pincelada a origem da dupla de Megalobox, e a abordagem da Gansaku em Junk Dog é parecida com a de Danpei em Joe. Porém, Danpei sempre foi preocupado com Joe, um fanatismo que levava a ele se colocar em perigo pelo rapaz constantemente. Ele tinha uma fé absoluta em Joe como lutador, já Gansaku nunca teve essa fé. Mesmo quando Joe se mostrou um lutador exímio, Gansaku fechou um acordo para que ele perdesse uma luta oficial importante, houve um arrependimento e redenção do personagem quanto a isso, mas comparativamente falando, Danpei sempre foi mais sincero e gentil que Gansaku.


























Essas nuances acabam fazendo toda a diferença.
Acredito que a relação entre Junk Dog e Gansaku é até mais realista do que a de Joe e Danpei. Existiram vários capítulos para desenvolver a dinâmica da dupla que passou por várias provações e Joe eventualmente se torna um personagem tão marcante na história das animações que é quase que intocável.

Ashita no Joe é ambientado em um Japão pós segunda guerra. O país estava aos escombros e a obra começa com um tom meio sombrio onde temos esse personagem que arranja briga por qualquer motivo e quer provar ser o mais forte ou o mais hábil, sempre. Porém, a mensagem de Ashita No Joe já está em seu título e na tradução livre fica como “O Joe do Amanhã”. É uma mensagem de esperança e em diversos momentos nós torcemos por Joe, nós queremos que ele sempre levante da lona e que sempre ganhe, pois essa é a sensação de esperança que a obra transmite aos espectadores. Uma fé incondicional de que enquanto houver forças para lutar, tudo vai melhorar!
Megalobox se compromete com essa mensagem.
Junk Dog também insiste em levantar sempre em todas as lutas e temos vários momentos de comoção e talvez o ápice da obra tenha sido entre os episódios 5 e 6, a luta contra o ex discípulo de Gansaku, Aragaki. De longe a melhor luta da obra. Extremamente bem animada e empolgante, uma luta que torcemos pelo Junk Dog com todas as nossas forças, e existe todo um contexto profundo para a luta que é também uma redenção por parte dos lutadores e do técnico.
























Mas vocês entendem o problema da melhor luta do anime acontecer na metade dele?
Pois é, o final de Megalobox é morno e um tanto quanto agridoce pois a última luta, apesar de ter certa empolgação, ainda é pouco comparado ao que se espera de um clímax, inclusive os acontecimentos que precedem a luta em si são mais interessantes do que ela.
Então chegamos ao décimo terceiro episódio com algumas pontas para amarrar e pouco tempo para explicação.
Uma amizade inusitada que surge em função de um respeito mútuo entre os lutadores rivais e um final relativamente feliz onde Junk Dog e Gansaku se encontram livres da máfia que os perseguia e conseguem o ginásio para seguir treinando futuros boxeadores. E isso seria aceitável se a obra não tivesse trabalhado tanto algumas questões como, por exemplo, a de que as pessoas de extrema pobreza, como era o Junk Dog, não tinham identidade. Tanto que para entrar no torneio de lutas oficiais, ele teve de recorrer aos agiotas por uma identidade falsa.
Essa questão do Junk Dog não ter um nome de fato, de ele não existir oficialmente, só foi tratada novamente em um episódio onde um dos competidores o ameaça dizendo que irá revelar seu segredo e isso automaticamente o tiraria da competição. Mas esse problema foi resolvido e depois disso nunca mais é abordada essa questão.
Além disso, a obra sempre passa a impressão de que o protagonista está flertando com a morte e os títulos de cada episódio são todos ligados a morte. Alguns exemplos:

Comprar Ou Morrer?
O Homem Morre Apenas Uma Vez
Vamos Dançar Com A Morte
Nascido Para Morrer




















Além do que, o final de cada episódio vinha seguido de uma chamada para o próximo e sempre faziam questão de enfatizar a frase na tela “Not dead yet”, ou na tradução “Ainda não morto”. Esse flerte com a morte também é uma referência a Ashita no Joe.
No arco final do mangá e do anime, o Joe de Ashita no Joe tem uma luta sensacional e ao fim dela, ele fica estático no canto. Nunca foi dito oficialmente, mas a crença geral é que Joe morreu no ringue. E esse final icônico com a morte do amado protagonista foi um dos motivos para a obra ser consagrada.
Talvez a intenção do autor de Megalobox tenha sido realmente voltar a atenção para a possível morte de Junk Dog, mas no fim das contas, a série termina com tudo calmo e caminhando para uma felicidade estável.
Não acho que valha a pena teorizar o que se passou na cabeça do autor, mas acredito que esse final tenha sido pouco satisfatório, ainda assim não se pode dizer que foi um final aberto nem nada, é apenas um final morno.


















Falando em dados técnicos da obra, eu conservo alguns elogios para a equipe de animação. Houveram ótimas lutas e uma consistência em todos os episódios. Talvez eu tenha sentido  um pouco de falta de alguma fluidez nas lutas finais, mas nada pecaminoso.
A trilha sonora é sensacional, e acho que isso foi um dos pontos altos da série, recheada de hiphop e com espaço até para um personagem mandar um rap ao fim da obra.
No entanto, o roteiro foi o que talvez mais tenha me desagradado. Vários pontos foram jogados aleatoriamente e suas resoluções foram pobres, além de que o fim parece um tanto apressado e algumas atitudes das personagens são inconsistentes com a personalidade dos mesmos.
Mas, não há dúvidas de que apesar dos pesares, é uma obra acima da média, pouco, mas ainda assim acima.



Um 6/10 sem nenhum arrependimento.
Talvez se a obra tivesse se focado em outros pontos, e não puxasse tanto para as comparações a nota tivesse sido melhor, mas não deixa de ser um bom anime.
Fica a recomendação para quem gosta do estilo e para quem quer ver uma releitura de um dos maiores clássicos da história.



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