Death Note - Tsugumi Ohba



Sinopse: Um jovem colegial extremamente inteligente se depara com um caderno preto intitulado "Death Note" este caderno tem o poder de matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito nele dês de que a pessoa que escreveu esse nome tenha uma imagem clara em sua mente de sua vitima.


Anime: Death Note

Gênero: Mistério, Policial, Sobrenatural
Autor: Tsugumi Ohba
Estúdio: MadHouse
Direção: Tetsuro Araki
Episódios: 37


Dos títulos que já escrevi a respeito aqui no Blog, Death Note é definitivamente o mais popular.

Aqui no Brasil foi exibido pela primeira vez pelo Animax em 2009 apesar do anime ter sido lançado no japão em 2006. De qualquer forma, a obra se popularizou e ganhou até um filme (que aconselho a todos não tomarem por base aquela atrocidade para tirar alguma conclusão a respeito da animação. O filme meramente se apropriou do titulo da obra e respeitou muito pouco as características das personagens ou o enredo da obra em si.).

Obviamente vou discorrer um pouco a respeito da obra, então alguns
spoilers serão inevitáveis a partir daqui, mas o que vou procurar discutir no meu texto é uma questão que vai além desse anime em si. Vou falar um pouco sobre o mercado de animes e a importância dessa obra para tanto.

Um conceito interessante da obra é que o personagem central é totalmente vilanesco e acompanhamos esse estudante, Light Yagami, e sua evolução. Porém, não é como se fosse um humano puro que repentinamente se vê corrompido por um poder sombrio, a personagem de Light é bem esférica, no sentido de que é fácil entender as motivações que o levam a construir seu ideal de justiça.

Ele vem de uma família de ideais rígidos. Seu pai era o chefe da força policial e Light um estudante exemplar em todos os aspectos, quando a priore o caderno cai em suas mãos ele o trata com ceticismo, mas sua curiosidade natural e pensamento cientifico o instigam a experimentar os poderes do caderno e ele o faz em um ato de heroísmo. Light escreve o nome de um delinquente descontrolado e, com isso, salva outra pessoa. 
Esse ponto é muito importante para a construção dessa personagem, pois seu ideal de justiça já nesse instante diz: "Tudo bem matar se for pelo bem maior".






Uma vez que o poder do caderno tenha se comprovado legitimo, Light não se desespera. Aliás, a frieza com que ele trata o assunto e a calma dele para lidar com esse evento sobrenatural inexplicável até então é o que o torna marcante nesse primeiro ato da obra. A partir disso é que nós leitores/espectadores entendemos que esse personagem possui uma característica destoante aos heróis convencionais. Ele é extremamente racional e isso já se coloca contra o modelo mais popular de heróis passionais.


Mas Death Note vai um pouco além na quebra dos moldes.

A grande verdade é que a personagem principal de Death Note não é um herói, aliás ele é o grande vilão da história toda e todas as características do arquétipo de um bom vilão estão ali. Sua inteligencia imbatível, seu ideal forte e inabalável, sua frieza com relação a vida alheia e a utilização do "Bem maior" como desculpa para cometer suas atrocidades. Além do carisma impecável, tamanho carisma que em boa parte da obra ele convenceu a todos de que era legitimamente bom.

Death Note é um banquete para análises de construção de personagens pois seu núcleo principal possui vários aspectos que proporcionam discussões sobre ética, benevolência e justiça. Claro que falando dessa forma da personagem central acabamos por nos cativarmos pelos trejeitos dela, mas em uma visão mais ampla Light é apenas mais um megalomaníaco e se houver qualquer duvida a respeito disso, posso sempre sacar a carta da fala dele: "Eu me tornarei o DEUS do novo mundo". 

Mas, a real questão aqui é que em determinado ponto da obra, Death Note fica saturado e isso se deve ao fato de que bem no começo uma outra personagem central é apresentada e essa personagem é a definitiva contraparte do Light.
Esse personagem é o L, um investigador mundialmente conhecido que fica no encargo de identificar e prender o misterioso assassino em série que tem matado criminosos ao redor do mundo, e esse assassino obviamente é o Light. Então, é dado o inicio do jogo de gato e rato onde esse investigador, que sempre preservou seu nome, não pode ser assassinado através do método usual e infalível do caderno.

Nesse ponto a obra é realmente interessante e acho que todos que a acompanharam tiveram essa sensação de tensão constante. 
É bem comum nós nos pegarmos torcendo para ambos, essa sensação de tensão crescente é o que acabou criando as grandes expectativas a respeito da obra. 
A originalidade do roteiro combinada com uma arte impecável e os diálogos intensos acabaram por criar uma legião de fãs, fãs do L, fãs do Kira (pseudônimo adotado por Light na obra para manter sua identidade segura e, ainda assim, ter uma espécie de figura pública para pregar teu ideal) e fãs de Death Note como um todo. 
Isso funcionou muito bem. As vendas foram boas, os fãs estavam cada vez mais animados com o clímax da história e após uma sequência de acontecimentos extremamente bem elaborados, chega em um ponto do ápice onde Light Yagami consegue levar a melhor sobre L e o assassina (não diretamente, mas basicamente ele foi o autor do plano todo). Assim, ele se livrou de seu maior obstáculo e provavelmente o único que seria capaz de revelá-lo e mandá-lo à justiça.
Sua vitória foi tamanha que não só ele fez isso, como acabou se tornando o encarregado responsável pela investigação de Kira. Ou seja, agora ele tinha a posição privilegiada de estar atrás de si mesmo e isso seria um fechamento sem igual.
O personagem central da série é um vilão e consegue executar seus planos com tamanha maestria que ele se torna aquilo que queria, o deus do novo mundo que ele criou. Onde as taxas de criminalidade são baixas devido ao constante medo da punição mortal que pode vir dessa entidade chamada Kira. (Inclusive tem um cena muito linda do L Lavando os pés do Light logo antes da morte acontecer).




Então houve uma questão,
As vendas estavam ótimas e os editores sentiam que ainda não era o momento para uma obra assim terminar, ao menos essa é a impressão que dá pois apesar desse ápice conclusivo, a obra se estende ganhando mais dois detetives que herdaram a vontade do L de pegar o Kira e novamente um jogo de gato e rato recomeça, dessa vez com o Light um pouco mais descuidado e com duas crianças prodígios que possuem poderes dedutivos quase que equivalentes ao de L.
Acho que os fãs acabaram ficando com esse gosto meio agridoce na boca onde temos esse mais do mesmo e, ao mesmo tempo, algo de aspecto totalmente diferente. Talvez por Death Note ter quebrado tantos padrões, a expectativa para a obra fosse bem maior do que era possível realmente fazer. A qualidade de animação continuava impecável, mas o roteiro sofreu tanto que, na segunda metade desse anime (pós morte do L), fica difícil simpatizar com o Light.

Claro que pode ser mera especulação falar que essa extensão da obra foi forçada por motivos de vendas, mas o autor de Death Note possui outro titulo chamado Bakuman, que se trata de um romance slice of life que fala de um escritor e um artista que decidem se tornar mangakás (autores de mangas) renomados e a obra mostra os bastidores da confecção e editoração de um manga.

Em certo ponto da obra, os autores passam por uma situação onde a editora tenta obrigá-los a continuar com uma história que eles julgavam já estar pronta para ser finalizada e a forma como isso é tratado da perspectiva dos autores e as resoluções em Bakuman, parecem uma nítida alfinetada a essa sede de lucro que acaba por estragar a arte em si. 
Bakuman é uma obra com um teor bem autobiográfico. Existem vários aspectos que são colocados na obra que falam sobre seu autor, então não é algo tão fora da realidade afirmar que essa passagem na obra se refira ao dilema de Death Note, ao menos ao meu ver.

Enfim, levando em consideração o anime como um todo...Death Note é sim uma obra de arte, uma peça rara e por mais que a segunda metade do anime tenha perdido um pouco sua qualidade de roteiro, o final foi muito bom e a qualidade de animação como um todo é constante. 

Meu coração diz 8 mas a nota real é um 7/10. 
O autor de Death Note é possivelmente um pseudônimo de um escritor que já possuía outros trabalhos consagrados e decidiu adotar essa identidade para evitar associações, uma vez que eram linhas de trabalhos bem distintas na época.
De qualquer forma, vale à pena chegar as outras obras que ele fez como Tsugumi, como Bakuman e Yamada-kun. 






Comentários

  1. Que bacana você ter gostado, Tiago. Confesso já ter lido resenhas bem negativas a respeito de Death Note e por isso, nunca tive muita vontade de conferir para ver se realmente era tão ruim... Mas enfim, sua resenha está tão completa e tão enriquecida que me fez ter vontade de ver com meus próprios olhos todos esses detalhes que você citou.
    Enfim, espero não me arrepender e gostar verdadeiramente. Vou ficar bem chateada se acabar achando que perdi meu tempo...

    xoxo
    www.foradocontexto.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que curtiu o texto Thaís!
      O anime é bem bom, pelo meno eu gosto. Fica Ligada nas próximas dicas aqui do Sobencomenda, garanto que alguma coisa vai lhe apetecer! =)

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas