O Pretendente || 2022

Sabe aquela história que te faz esquecer do mundo e te fisga com um sorrisinho bobo no rosto? Bem, foi exatamente assim que me senti assistindo a este romance de época que tem uma narrativa leve e aconchegante.

"O Pretendente" mergulha fundo na fascinante premissa do casamento por conveniência. Aqui duas pessoas que mal se conhecem, se veem unidas por um contrato frio e precisam permanecer juntas por um ano inteiro para cumprir o acordo. O que começa como uma união formal, promete se transformar em algo que nem o mais elaborado dos contratos poderia prever.


Sinopse: Após doze longos anos trancada em um convento, o único desejo de Ida Ó (Júlia Mentes) era voltar para o lar que tanto amava. Mas quando a Madre Superiora anuncia que seu pai a quer fora por mais um ano, ela decide tomar as rédeas da situação: qualquer escândalo serve para garantir sua expulsão!

O que ela não esperava era que sua passagem de volta para casa seria apenas o começo do pesadelo: seu amado lar foi transformado em um covil de prostituição e seu pai anunciou o casamento com... sua amiga de infância, a mesma que estava em uma cena absolutamente chocante com outros homens.

Decidida a não viver sob o mesmo teto da nova "madrasta", ela confronta o pai, mas a resposta dele é ainda mais ultrajante: um anúncio público oferecendo um dote altíssimo para quem se casar com ela! Indignada com a situação (e a fila de pretendentes terríveis), Ida só vê uma saída radical: casar-se com Csaba Balogh (Barnabás Rohonyi), um pintor cínico, mas que parece "normal" o suficiente para um casamento por conveniência. Eles estabelecem suas condições, mas o pai dela dá a cartada final: eles devem permanecer juntos, sob o mesmo teto, por um ano.

Será que Ida e Csaba conseguirão manter a farsa até o fim? Ou será que um ano de convivência forçada pode transformar a conveniência em um amor de tirar o fôlego?

"Sem dúvida, o casamento é um sacramento, mas o diabo fabrica o documento para isso." 

Percepções: Baseado no aclamado romance de Géza Gárdonyi denominado Ida Régenye, esta produção húngara feita para a televisão nos transporta diretamente para a década de 1920. Não espere efeitos especiais. Esta obra é tão sincera e despretensiosa que realmente nos sentimos como se estivéssemos assistindo a algo gravado naquela época. Para as fãs de romance de época, a nostalgia em sua forma mais pura! Mergulhamos nas regras e na etiqueta social da época, admiramos a elegância dos figurinos, nos encantamos pelo charme dos protagonistas e apreciamos a beleza estética e cultural da narrativa.

Aqui conhecemos Ida, uma jovem cuja vida foi moldada pela educação do convento após a perda de sua mãe. Logo nos primeiros instantes, somos jogados na sua angústia e seu único desejo que é a liberdade para voltar para casa. No entanto, o lugar que deveria ser um refúgio se mostra uma prisão de ouro onde seu desejo de partir é completamente abafado. Devido ao seu substancial dote, ela é impiedosamente pressionada a ingressar na ordem religiosa, como se sua felicidade não importasse. A narrativa expõe a chocante verdade da época, onde a igreja se mostra mais interessada em encher seus cofres com o dinheiro de Ida do que em se importar com o fato de que a está sufocando.

A situação de Ida, que já era ruim no convento, explode em um caos completo ao retornar para casa. Seu pai, um homem afogado na boemia, não a vê como uma filha, mas sim como um obstáculo incômodo à sua vida promíscua. Como plano para se livrar dela, ele a anuncia em um jornal, um ato socialmente condenável na época que gritava que aquela era uma mulher que ninguém queria. E que resultou em uma fila de caça-dotes de péssima procedência.

"É difícil ser inteligente quando você precisa."

Em meio a pretendentes horríveis, o pai declara Csaba Balogh como o escolhido. Mas... Ele parece normal demais para aquela loucura, e o fato de ele se negar veementemente a revelar suas motivações só aumenta a tensão entre os dois. O resultado é uma relação marcada por pura desconfiança, com as interações entre Ida e Csaba dando um show de trocas de farpas e animosidade.

À medida que eles são forçados a conviver, testemunhamos a transformação de uma união de conveniência em um laço mais profundo, com a animosidade dando lugar a uma amizade sutil. Eles começam a se conhecer de verdade, descobrindo qualidades e traços de personalidade que jamais imaginavam.

Embora Ida possa parecer a personificação da pureza e ingenuidade após anos no convento, sua personalidade está longe de ser passiva. Ela é uma mulher que luta ativamente por sua liberdade contra todas as expectativas sociais. A verdade é que ambos os protagonistas vivem presos em suas próprias gaiolas douradas: Ela está aprisionada sob o peso esmagador das expectativas impostas às damas da alta sociedade. Ele, por sua vez, está preso ao seu título de nobreza e às responsabilidades familiares, assim como ao mundo artístico. Ambos estão vivem uma mentira elaborada como um meio desesperado de, ironicamente, alcançar a tão sonhada liberdade.

Infelizmente, o caminho para o romance não é tão fácil. Os dois compartilham uma grande dificuldade em dialogar sobre o que realmente os incomoda. Então, o que poderia ser resolvido com uma conversa simples, acaba se transformando em pequenos dramas e mal-entendidos que seriam facilmente evitados.

Ao chegar ao final, fiquei com a sensação agridoce de que a obra acelerou o passo justamente na hora que deveria ter desacelerado. O que prometia ser um romance de construção lenta e deliciosa, acabou sendo apressado. Houve uma escassez de momentos longos e significativos entre o casal, aqueles que realmente nos fazem investir no futuro deles. Infelizmente, o resultado é que os sentimentos românticos que deveriam me emocionar não foram convincentes. É difícil "comprar" a paixão quando a química parece ter sido deixada de lado em prol do ritmo da trama.

"Deus escondeu o coração para que ninguém pudesse ver."

Vale a pena assistir pela ambientação única, pelo drama de Ida e pelas farpas iniciais. Se você sente que consegue superar um final romântico apressado, é uma ótima opção para uma tarde preguiçosa.

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