O Anel dos Löwensköld || Selma Lagerlöf

O Halloween está chegando, e com ele, um toque sobrenatural invade o Sob Encomenda! E nada melhor do que celebrar a data com uma história de arrepiar! Medrosos, podem relaxar: esta dica não vai tirar o seu sono, mas vai te dar aquele gostinho inesquecível de contos noturnos ao pé da fogueira.

Pronto para mergulhar em um mistério macabro e descobrir o que acontece com quem ousa roubar dos mortos? Aventure-se se tiver coragem! 


Sinopse: Eis o ponto de partida deste mistério: o General Bengt Löwensköld! Este homem simples, mas ferozmente leal ao Rei Carlos XII da Suécia, recebeu do monarca um anel de valor inestimável. Sua devoção era tamanha que ele fez um último pedido insólito: ser enterrado com a joia em seu dedo.

Por quê? Para que, na vida após a morte, o rei pudesse reconhecê-lo através dela. A família acatou, é claro. Mas imagine a cena: enquanto uns enterravam uma fortuna, os moradores locais, que passavam por privações, observavam tudo, achando a ideia... absurda.

Mas como você pode imaginar quando a lealdade de um morto colide com a necessidade dos vivos, o palco está montado para a desgraça.

"Eu não sinto como se tivesse feito algo errado. De um vivente eu jamais tomei mais que uma moeda, mas que mal faz tirar de um morto uma coisa que ele não precisa?"

Percepções: Com uma narrativa envolvente, que salta entre a terceira e a primeira pessoa, um narrador obcecado tenta decifrar um mistério que aconteceu em sua província. Como pessoas simples, de bom coração e sem ambições, se viram repentinamente consumidas por pensamentos sombrios e inquietantes por causa de um simples anel? Este é o mistério que vai te prender da primeira à última página.

Logo nos primeiros parágrafos, Selma Lagerlöf nos captura com uma maestria rara, nos convidando a apreciar este conto sombrio. Ela não só aguça nossa curiosidade sobre o terrível anel, mas nos transporta com detalhes vívidos para uma época de grandes contrastes: onde a lealdade dos homens aos reis era medida em vida ou morte... uma lealdade que abria caminho para impérios, mas que, ironicamente, semeava pobreza e fome entre os súditos.

"...eu tento pensar sobre isso a fundo a fim de entender como o amor ao rei Carlos podia preencher a alma de alguém e se aferrar tanto em um velho coração duro e casmurro, a ponto de todas as pessoas esperarem que esse amor restasse mesmo após a morte."

Embora o conto comece nos palcos dos feitos grandiosos de homens poderosos, a narrativa dá uma guinada brilhante. A autora nos abre as portas do mundo feminino da época; um universo limitado e cruel, sim, mas que nos presenteia com personagens femininas de uma força inesquecível e inspiradora.

Diferente do clichê, Lagerlöf nos surpreende ao não usar vilões óbvios. Ela ousa colocar pessoas boas, sem apego aparente a riquezas, no centro deste pesadelo. Estes personagens, de forma inexplicável, veem suas mentes consumidas por pensamentos sobre o anel. É uma maldição que não escolhe. O anel assombra e atrai a ruína (todo tipo de azar e mazela) para seus portadores, quer eles sejam inocentes ou culpados. 

Com uma sutileza perceptível e instigante, a autora transforma o anel em uma rica metáfora. É por meio dele que desvendamos a imponente figura do rei Carlos XII e sua influência sobre o destino e o espírito do povo sueco. No decorrer da leitura, somos guiados pela dinâmica fascinante entre o poder da monarquia e o turbulento embate da época: superstições ancestrais versus dogmas religiosos versus a busca por justiça.

O que torna a obra ainda mais fascinante é a combinação de ficção com a história real. Graças à inclusão de diversos personagens que realmente existiram, o livro é enriquecido com notas de rodapé repletas de comentários históricos e mitológicos.

Para aqueles que gostam de uma imersão completa: aqui você não apenas acompanha um mistério de arrepiar, mas também desvenda os bastidores da época. A leitura se torna uma jornada rica, onde a lenda e a História caminham lado a lado.

"Era o rosto de um homem velho, como ele esperava encontrar. Mas sobre aqueles traços não repousava a paz dos mortos, naqueles traços se exprimia uma cobiça selvagem, e na boca pairava um sinistro sorriso de triunfo e de certeza da vitória. Era aterrorizante a visão de um morto que espelhava paixões terrenas."

Contendo 160 páginas e escrita em 1925 pela primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Literatura, a obra é a joia rara de uma trilogia que, infelizmente, só teve o seu primeiro volume publicado por aqui. Ao menos, por enquanto.

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