Quando a leitura desperta nossa pura paixão, a crítica fica de lado. Eu estou tentando formular percepções sobre o livro, mas minha mente só consegue transmitir um sinal de alerta: Ignorem tudo e leiam AGORA! O motivo? O protagonista. Orpheus é a personificação da perfeição, e meu cérebro está em loop infinito, exigindo que o mundo conheça essa obra. (Pare de ler minhas divagações e comece a ler este livro!)
Sinopse: Por incontáveis anos, o medo é a chave do tormento da humanidade. As aldeias ergueram suas muralhas impenetráveis não para se proteger de exércitos, mas sim dos Demônios, criaturas que anseiam por nada além de carne humana embebida em pavor. Eles não apenas matam; eles aterrorizam suas vítimas, transformando cada sombra em um pesadelo. A única pausa é um alento diário: a luz do sol os força a voltar ao Véu, a floresta da qual emergem a cada anoitecer.
Enquanto a maioria das pessoas se amontoa na segurança das muralhas, alguns ousam desafiar a sorte. Algumas famílias que trocavam a aldeia pela paz isolada das clareiras. A família de Reia Salvias era uma dessas. Até que numa noite, o silêncio da clareira foi estilhaçado. Dois demônios vieram e festejaram sobre a carne de sua família. Mas o horror não parou por aí: por alguma razão sombria, as criaturas simplesmente ignoraram a garota. Reia viu tudo e sobreviveu.
Contudo, a sobrevivência dela não foi vista como um milagre pelos moradores da aldeia mais próxima; mas como um mau agouro. Sem família e rejeitada, a garota cresceu isolada dentro dos muros, tratada com desprezo e vista como o prenúncio da desgraça por todos. Agora, a aparição de Orpheus, um Caminhante do Crepúsculo, nas proximidades das muralhas acionou uma brutal tradição: a necessidade de uma oferenda. E, para o povo, a escolha é clara. Reia é o sacrifício perfeito em troca de uma barreira de proteção.
"— Você é rápido?
— Eu gosto da caça — ele respondeu, mas sua voz soou mais sombria e profunda antes que o orbe mudasse para vermelho. — Mas isso me deixa com fome."
Percepções: Esqueça o que a capa te diz! Este livro é a prova de que as aparências enganam, e você está prestes a ter uma paixão literária. Com um protagonista que vai do "estranho" ao absolutamente irresistível, você não terá escolha a não ser cair de amores por Orpheus. Anote minhas palavras: ao final da leitura, a busca por um Caminhante do Crepúsculo será sua nova missão de vida. Quase foi a minha, pois este é o melhor monster romance que li.
Em A Soul to Keep, conhecemos Reia, uma jovem de 26 anos que existe à margem de uma aldeia. Condenada ao isolamento pela própria comunidade, ela é uma pária: ninguém se aproxima, ninguém fala com ela. Aos olhos dos habitantes, ela é tão agourenta que sequer tem permissão de olhar para as pessoas, já que temem a suposta maldição que ela carrega. Quando a cidade a força a ser um sacrifício "voluntário", você pode esperar que ela sinta medo pela situação, mas encontrará algo muito mais potente. O que a move não é o pavor, é a pura raiva. É a revolta de ser injustiçada por toda a vida que a impulsiona a acompanhar Orpheus além do Véu.
O que ela não poderia esperar é que, no caminho para o Véu ou na estadia na casa de Orpheus, a convivência forçada com ele invertesse todas as expectativas diante de sua aparência. Este ser lendário se revela em cada página muito mais do que um monstro, exibindo uma bondade e uma gentileza inesperadas que a intrigam e que vão nos conquistando aos poucos pela constância dos pequenos gestos e ingenuidade. Nós nos juntamos à ela na tentativa de decifrá-lo. Afinal, como ler as emoções em um ser que possui um crânio de lobo ao invés de uma face? O mistério se aprofunda nos orbes de cores mutáveis que ele tem no lugar dos olhos, nas emoções contidas na voz que surge mesmo que sua boca não se mova e em cada informação que este nos oferece. Aqui a leitura facial está fora de cogitação; a única chance é aprender a ler o próprio Orpheus e suas singularidades.
Mas nessa obra também temos a lição de que lidar com um ser sobrenatural pode ser mais assustador e letal do que o esperado. Logo no início, ouvimos o aviso de Orpheus sobre as coisas que devem ser evitadas, entre elas as tentativas de fugas. Isso porque, ao vê-la como presa ou quando entra no modo de caçada, o Caminhante do Crepúsculo perde o controle de sua sanidade, mergulhando em um frenesi cego de fome e violência. Então, fugir é assinar a sentença de morte mais rápida. Parece algo trivial, mas o despertar de novos sentimentos e a queda de velhos preconceitos transformam a regra mais fácil de Reia no seu maior tormento. O Véu é um lugar de horrores, onde a única coisa entre Reia permanecer viva e ser devorada é Orpheus. Contudo, ela transgride essa única e vital regra repetidamente.
Sendo sincera... Nada é mais irritante do que aquele personagem que recebe uma regra de ouro, a ignora de forma espetacular, e de repente, está fugindo de um monstro ou à beira da morte. É o ódio que sinto por quem não consegue parar para pensar e, por pura teimosia ou ingenuidade, coloca a própria vida (e o que é pior, a vida do outro) em risco. Especialmente, quando a motivação da fuga é não aceitar os próprios sentimentos.
"A menos que você saiba o único lugar que deve esfaquear e atacar fundo o suficiente no meu corpo, devo avisá-la que, se falhar, isso resultará infelizmente em sua morte."
Meu ponto de frustração nessa obra foi a construção de Reia. Dada sua criação isolada e socialização interrompida aos sete anos em um mundo sem tecnologia (onde a comunicação é tudo), eu esperava uma protagonista única. Infelizmente, ela é como qualquer outra heroína de fantasia ou outro gênero. Afinal, onde está a dificuldade nos diálogos? A estranheza nas interações? O peso da solidão de quem foi excluída a vida toda? Nada disso está aqui. Pelo contrário: para ela, a solidão e o desejo de ter alguém para compartilhar a vida são sentimentos quase estranhos, uma incoerência que rouba o brilho do que poderia ter sido uma personagem profundamente original.
Eu confesso que minha maior preocupação era, dada a aparência de Orpheus, como a autora faria a química funcionar. Mas, você pode respirar aliviada(o). A narrativa de Opal é um convite irresistível. Ela nos envolve gradualmente, com cenas tão bem escritas que a tensão é construída de forma impecável, até culminar na consumação. Ela prova que tem um talento singular para transformar o improvável em ardente e visualmente crível. Orpheus passa de extremamente gentil para uma boca suja e possessiva com muita naturalidade. E para aquelas leitoras curiosas sobre os detalhes que a maioria dos romances pula: o que acontece quando as "peças" não se encaixam? Bem, preparem-se, porque a trama não foge dessa situação. Como os personagens lidam com esse desafio íntimo? Bem, só lendo para descobrir o que acontece quando a paixão exige um pouco mais de... Hahaha, não vou contar.😁
Embora narrada em terceira pessoa, a história que conta com 544 páginas nos presenteia com a perspectiva dupla de Reia e Orpheus, permitindo-nos mergulhar profundamente em seus pensamentos, emoções e motivações. O coração desta obra pulsa na interação cotidiana entre os protagonistas, revelando a frágil verdade: sentimentos são fáceis de mudar. Aqui testemunhei como a convivência diária pode reescrever certezas, provando que, mesmo quando você não enxerga um parceiro no outro, a atração e a conexão podem te surpreender a qualquer momento.
Este universo se expande graças a inserção de personagens secundários. Eles chegam injetando um novo fôlego na história e, mais importante, plantando a semente da curiosidade. Uma vez que ajudam a desvendar a misteriosa humanidade de Orpheus e iluminar seu passado sombrio com as oferendas que vieram antes de Reia. Descobrimos que este passado não está enterrado; ele está voltando para um acerto de contas brutal.

A Soul to Take é o livro que abre a série Duskwalker Brides, uma saga de oito volumes que, apesar de não ser publicada no Brasil, já conquistou leitores pelo mundo. A autora está expandindo este mundo com a novíssima série Duskwalker Beginnings, que promete revelar as origens de tudo. Contudo, embora seja uma "origem", a autora recomenda que você leia apenas depois de Duskwalker Brides, pois o Beginnings está recheado de spoilers que vão atrapalhar sua experiência.
Se você é fã da magia atemporal de A Bela e a Fera ou se encantou pela fantasia agridoce de The Ancient Magus' Bride, prepare-se para se apaixonar! Esta obra é a sua próxima obsessão. Mergulhe em uma história com um protagonista irresistivelmente doce que vai desarmar você a cada pequeno gesto e ação.
Pronto para um romance que te conquistará com pura ternura? 💛
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