O Lagosta || 2015

 


A frieza distópica de relacionamentos modernos e pressão social...


Olá, amores! Mila aqui e irei falar de um filme que estava pronto para sair da Netflix e quis conferir enquanto ainda dava tempo. No momento, ele não está disponível em nenhum streaming, mas logo deve voltar. 

Para alguns que conferiram filmes do diretor Yorgos Lanthimos, já dá para saber que o trabalho dele se destaca por causa da sua abordagem única e provocativa da condição humana. O Lagosta (The Lobster) é um exemplo dessa abordagem, trazendo uma trama distópica sobre amor, solidão e a pressão social para estar em um relacionamento. Com um ritmo peculiar e um olhar frio sobre as emoções humanas, Lanthimos cria um universo compenetrante, desconfortável e, ao mesmo tempo, assustadoramente familiar.



O longa se passa em um futuro onde ser solteiro não é uma opção. Pessoas desacompanhadas são enviadas para um hotel onde têm 45 dias para encontrar um parceiro romântico. Caso falhem, são transformadas em um animal de sua escolha e soltas na natureza. David (Colin Farrell), o protagonista, é um homem recém-abandonado pela esposa e agora precisa se adaptar às regras desse sistema. Ele escolhe se tornar uma lagosta caso não consiga um par – um animal que, segundo ele, vive bastante e permanece fértil por muitos anos.

O hotel onde os solteiros são enviados segue normas rígidas e bizarras. Relacionamentos devem ser construídos com base em características físicas ou traços específicos compartilhados entre os parceiros, e qualquer demonstração de desejo não autorizada pelo sistema, é punida severamente. Ou seja, o filme nos apresenta um ambiente de controle total, onde a espontaneidade e o amor verdadeiro são impossíveis.



Um dos elementos mais marcantes do filme é seu estilo frio e minimalista. A cinematografia reforça os cenários monocromáticos, criando uma sensação de artificialidade e desconforto. A trilha sonora, utilizada de forma bem comedida, reforça a tensão e a estranheza da narrativa.

Os diálogos são outro aspecto fundamental da identidade do filme. O texto é seco, direto e quase desprovido de emoção, fazendo com que as interações entre os personagens pareçam ensaiadas ou mecânicas. Essa escolha contribui muito para o tom do longa, transformando os dilemas humanos em algo absurdamente racional e pragmático.




Colin Farrell entrega uma performance contida e introspectiva, longe dos papéis mais expressivos que marcaram sua carreira. Seu David é um homem que segue as regras sem questioná-las, mas cuja transformação ao longo da narrativa é sutil e gradativa.
E também temos as incríveis Rachel Weisz, Léa Seydoux e Olivia Colman, que se destacam em papéis que reforçam a rigidez do universo construído por Lanthimos.

O Lagosta não é apenas uma sátira ao amor romântico, mas também um comentário ácido sobre a forma como a sociedade molda os relacionamentos. A obrigação de encontrar um par e a forma como os casais são validados por características superficiais refletem as pressões da vida real, onde muitas vezes os relacionamentos são vistos como marcos obrigatórios da vida adulta.

O filme também critica o culto à individualidade extrema e a resistência desse grupo é tão radical quanto a opressão do hotel, o que sugere que não existe uma verdadeira liberdade quando se trata de relações humanas. 



O Lagosta é um filme que nos desafia em vários níveis. Sua narrativa absurda e humor seco podem afastar quem busca uma experiência mais tradicional, mas sua riqueza temática e sua construção cuidadosa fazem dele uma obra singular e provocadora.

Yorgos Lanthimos cria uma distopia que, apesar de exagerada em muitos pontos, se mostra extremamente relevante, expondo as contradições da vida moderna e a artificialidade dos relacionamentos contemporâneos. Se você busca um filme que, com lentidão, instiga a reflexão e rompe com as convenções do gênero, O Lagosta é uma escolha imperdível e que me surpreendeu muito.

Para os curiosos e com mais detalhes (spoiler), o trailer pode ser conferido abaixo: 




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