Inconfidente - Julia Braga e Mel Geve
Primeiro de tudo, foi rebatizada de Lulu da Pomerânia (por ter sido reconhecida, logo de cara, como pequena, barulhenta e meio teimosa). E então, depois de não ter encontrado nenhuma vaga em moradias femininas, acabou indo viver com onze caras na digníssima República Tcheca. Daí teve que aceitar que seus amigos nunca teriam nomes comuns, como Rafael, Felipe, Gabriela e Lúcia; a partir de agora, ela precisaria se referir a eles como Planta, Fada, Havaiana e Bixcoito.
Mas isso, por si só, não seria caótico o suficiente. Era claro que o universo capricharia um pouco mais no drama.
Foi assim que, em uma madrugada sombria, ela olhou pela janela e viu um fantasma do outro lado da rua, encarando-a fixamente.
Se tem algo que eu sempre fui apaixonada na pré-adolescência (e também ali nos primeiros anos dessa fase), foi pela vida universitária de cidades do interior. Provavelmente, essa fascinação nasceu da minha obsessão pela novela “Três Corações”. Mas, com o passar dos anos, a realidade bateu à porta, e esse lado mais sonhador acabou ficando para trás. Quando li a sinopse de Inconfidente, me senti transportada de volta para aquele contexto, revivendo a lembrança de uma juventude leve e longe dos boletos.
No livro, conhecemos Manuela, uma jovem que finalmente conquistou a tão sonhada vaga em Letras na Universidade Federal de Prata Fina. E não, não é Ouro Preto — sem confusão, por favor. Sua vida muda completamente ao se mudar para a cidadezinha universitária, onde ela passa a ser conhecida como Lulu da Pomerânia. O motivo? Segundo os veteranos, ela é pequena, barulhenta e meio teimosa. Para completar, depois de não encontrar vaga em nenhuma república feminina, acaba indo viver com onze caras na digníssima República Tcheca.
Só por isso, o livro já seria maravilhoso. Mas, claro, Julia e Mel são incorrigíveis e nos dão um pacote completo já que, em uma madrugada sombria, Lulu olha pela janela e vê um fantasma do outro lado da rua, encarando-a fixamente. E daquela noite em diante, além de descobrir como é viver com meninos, ela também vai desvendar alguns segredos do além.
O livro vai nos mostrar um pouco dos segredos da cidade de Prata Fina e nos lembra que, muitas vezes, o que pensamos ser a história completa está longe de ser toda a verdade. Julia e Mel exploram bem as dúvidas dos jovens aos 18/19 anos e como nessa fase nem sempre sabemos nos expressar.
De cara, me agradou muito como as autoras fugiram dos problemas mais óbvios da dinâmica universitária e trouxeram novas questões para a discussão. Um exemplo é a desigualdade nos trotes, algo que fazia Lulu se sentir excluída. Isso acontecia, porque nas repúblicas era comum os veteranos aplicarem trotes, como trocar recheio da bolacha por pasta dente ou o revirar de um quarto por não deixar uma janela fechada, coisas que por ser a única menina na república, ela não vivia, já que os meninos a tratavam como a irmãzinha mais nova deles. Ao mesmo tempo, que elas trazem discussões importantes com relação ao papel de gênero e como mulheres são tratadas em ambientes acadêmicos.
A leitura é rápida, suave e consegue transmitir poder, força e muito potencial. Aprendemos não só sobre a Lulu, mas cada um dos membros da república, suas angústias e um pouquinho do que viveram até ali. Quando terminei, meu sonho foi que as autoras anunciassem um 2.0, explorando mais os personagens após os anos mágicos de lutas e provas da vida universitária - que nem sempre acabavam em cervejadas. Mas, por agora, estamos apenas vivendo com nossos sonhos de fanfiqueiros (E a Julia sabe que eu mesma já quase fiz algumas).
Inconfidente é uma obra genuinamente nacional e que vale cada página! Com uma leitura rápida e emocionante, é daquelas histórias que você devora sem notar!
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