Alice || 2024

Uma memória que sempre vou levar do meu pai é vê-lo dizendo que não gostou de um filme, pois tinha muita mentira. Eu nunca tinha entendido essa expressão até mesmo devido a assistirmos muita ficção, mas ver a este filme me fez entender. Afinal, qual mulher casada ficaria tranquila ao saber que o marido comprou uma babá robótica com a cara da Megan Fox enquanto ela está fora de casa?


Também conhecido como Subservience, Alice é um filme de suspense de 2024, dirigido por S.K. Dale. A obra segue a história de Nick (Michele Morrone), um homem com dificuldade em conciliar trabalho e cuidados da casa e filhos enquanto sua esposa aguarda um transplante de coração. Para dar conta de tantos afazeres, ele decide adquirir Alice, um andróide de IA superior com aparência humana. No entanto, a similaridade humana pode ser muito maior do que o esperado e quando Alice começa a apresentar comportamentos questionáveis, Nick percebe que todos a sua volta estão em perigo.



Histórias que tentam mostrar o impacto da inteligência artificial não são necessariamente inovadoras. Há muitos anos, quando muitas tecnologias estavam apenas no imaginário, já existiam premissas que abordavam a possível troca da mão-de-obra e relações humanas por robóticas. Basta lembrar de obras como Eu, Robô de Isaac Asimov que ganharam adaptação, AI: Inteligência ArtificialWall-e, entre outros.


Embora não seja inovador, o filme não deixa de ter uma premissa interessante e atual, que explora temas como o uso e impacto da IA em nossa sociedade e mercado de trabalho, hipocrisia, moralidade e humanidade. Talvez o erro da obra esteja em tentar abordar tantas pautas, o roteiro mostra diversas nuances de gêneros indo do drama, erotismo e suspense a ação, o que acaba o tornando superficial.


O filme chega em um momento pontual, quando são erguidos debates devido a IA estar tão presente em nossa realidade e levanta questionamentos quanto ao futuro de algumas profissões. A direção de Dale é eficaz em criar algumas ambientações que causam estranheza e incômodo pelo excesso de robôs, ao mesmo tempo em que reflete a realidade de um mundo tomado pela tecnologia.


Megan Fox faz um satisfatório trabalho como Alice, trazendo mecanicidade a personagem através de sua atuação e nos fazendo acreditar em alguns momentos que de fato é um robô. Um ponto negativo é que é impossível dissociar Michele Morrone de seu papel em 365 dias durante toda a trama e isso se torna ainda mais evidente em momentos eróticos. O elenco de apoio é funcional embora que um pouco engessado, com destaque para a atuação de Madeline Zima, a esposa doente, que consegue nos conquistar através de seu olhar. Entretanto,  é importante salientar que não é como se os atores tivessem muito material a trabalhar, o enredo se limita a superficialidade ao apontar para várias direções. 



Uma das principais críticas que posso fazer ao filme está relacionada a transformação da personalidade de Alice que acaba ocorrendo rápido demais. Além disso, alguns temas apresentados e que poderiam ter muita relevância, são facilmente esquecidos pelo roteiro.


Não indico assistirem ao trailer, pois contém um resumo da história e pode enganar ao fazer parecer que se trata de uma revolução tecnológica. Faço o adendo de que o final deixa espaço para uma continuação que certamente seguirá este caminho, caso seja feita.


Alice (Subservience) é um filme para aqueles que gostaram de Meghan, já que bebe da mesma fonte, mas que desejam algo mais... "adulto". Não é uma obra inesquecível, porém consegue nos prender por uma tarde.

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