Feios || 2024



Uma distopia que traz aquela nostalgia clichê previsível e, ainda assim, interessante...


Olá, amores! Mila aqui e iremos falar sobre um filme dirigido por McG e baseado na popular série de livros do autor Scott Westerfeld, “Feios”. O filme lançado esse ano pela Netflix tem como pano de fundo um mundo futurista e distópico, onde a beleza é literalmente imposta pela sociedade. Com um elenco formado por Joey King no papel de Tally Youngblood,o filme tenta se destacar no tão saturado gênero de distopias jovens, mas acaba tropeçando em alguns conceitos.

Como sinopse básica temos um futuro não muito distante, onde a sociedade é dividida entre os Feios (aqueles que ainda não passaram por uma transformação cirúrgica) e os Perfeitos (aqueles que já passaram pela cirurgia estética obrigatória aos 16 anos, que os torna socialmente aceitáveis com sua beleza padronizada). A transformação não é apenas física, mas também mental, moldando as pessoas para uma vida supostamente ideal, desprovida de conflitos e inseguranças.

A protagonista, Tally, está prestes a passar pela cirurgia que mudará sua vida e a transformará de uma Feia em uma Perfeita. Mas claro que antes disso, seu melhor amigo, Peris, passa pela cirurgia e vamos notando como a beleza pode mudar as pessoas, mesmo que em detalhes rápidos. E isso serve para toda a interação entre eles logo no começo do filme. Por ser uma adaptação, nem tudo será bem detalhado, trazendo um ritmo dinâmico, mas que nos faz sentir falta de algo. Mas as coisas não param por aí e Tally acaba sendo vítima de um plano que ela nem esperava existir.




Eu acabei lendo a série antes de ser lançada em português pela Galera Record, em 2010. E não lembro de quase nada, apenas de uma leve decepção com o livro extra e, sinceramente? Não me recordo do final, ainda mais por nunca ter relido a obra. Mas noto que a adaptação de McG tenta equilibrar elementos chave do romance de Westerfeld com as exigências cinematográficas, algo que não é simples quando se trata de distopias que abordam temas sociais. No entanto, Feios parece lutar para encontrar o equilíbrio entre ser fiel ao material de origem e tentar cativar um público moderno. O livro original de Westerfeld, lançado em 2005, foi um sucesso em meio à ascensão de outras obras de distopia jovem como "Jogos Vorazes" e "Divergente". Contudo, traduzir para a tela grande o universo distópico de Westerfeld apresenta desafios que o filme nem sempre consegue superar. 

No começo, "Feios" cria uma ambientação interessante. A comparação entre os "Feios" e os "Perfeitos" é visualmente bem executada, com uma direção de arte que contrasta o mundo pré-transformação, caracterizado por cores mais frias e ambientes industriais, com o mundo idealizado dos "Perfeitos", repleto de uma de cores mais vibrantes e um design futurista. McG, conhecido por seu trabalho em filmes de ação como "As Panteras", faz um bom trabalho em criar um mundo tecnologicamente avançado e com efeitos visuais que são como um CGI bem feito, mas não perfeito.

E como citei no começo, enquanto os livros têm o tempo necessário para construir a evolução psicológica e emocional de Tally, o filme se apressa ao tentar condensar muita informação em duas horas. A transição de Tally de uma adolescente ansiosa pela transformação para uma jovem que começa a questionar as normas sociais é apressada, deixando pouco espaço para que o público realmente se conecte com suas motivações e dilemas. O que me faz ter certeza de que a adaptação teria ficado incrível se fosse uma minissérie.



Além disso, o roteiro, escrito por Krista Vernoff, meio que tropeça ao tentar introduzir conceitos mais profundos de conformidade social e liberdade individual de maneira simplificada, deixando de lado discussões mais profundas que fazem do livro uma obra que, até onde me lembro, me cativou há mais de uma década atrás. Ou seja, algumas cenas parecem superficiais e certos conflitos, especialmente aqueles envolvendo a amizade entre Tally e Shay (que aparece como uma nova melhor amiga e é interpretada por Brianne Tju) , são resolvidos de maneira simplista demais, sacrificando a complexidade emocional em favor de um ritmo mais dinâmico.

Mas, apesar da correria, temos boas interpretações. Joey King, conhecida por seus trabalhos em filmes como "A Barraca do Beijo", traz uma performance competente como Tally. Ela consegue transmitir bem a transformação interna da personagem, desde a hesitação inicial até sua gradual consciência sobre as falhas do sistema que a cerca. 

Chase Stokes, que interpreta Peris, o melhor amigo de Tally, acaba mostrando um pouco de como é a vida antes dos 16 anos, com a grande espera, mas... seu arco de desenvolvimento é basicamente nulo, já que o roteiro não permite que seu conflito interno seja explorado de maneira mais profunda.




"Feios" traz críticas sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade. A ideia de que todos devem se adequar a uma norma estabelecida para serem aceitos ou respeitados é um tema relevante, especialmente em tempos onde a busca por validação estética é um problema crescente. A escolha de adaptar o livro em 2024 me pareceu muito boa já que casa bem com a atualidade e as muitas das preocupações relacionadas à pressão por uma perfeição inatingível. No entanto, a forma como o filme aborda essas questões é onde reside parte de sua fraqueza. 

Apesar de ser um tema pertinente, a abordagem muitas vezes fica na superfície. O roteiro parece hesitar em mergulhar mais fundo nas implicações filosóficas dessa sociedade que valoriza a beleza acima de tudo. Há momentos em que o filme parece mais preocupado em manter o ritmo e a ação do que em realmente explorar as nuances da crítica social que está na base da narrativa.




Para os fãs do gênero distópico, o filme oferece uma experiência visualmente interessante e com momentos de suspense que certamente vão manter a atenção do público. Apesar da falta de profundidade, "Feios" tem seus méritos, especialmente como uma adaptação de um livro juvenil para a era moderna. Ele toca em pontos relevantes e oferece uma crítica sobre a aparência e o desejo de perfeição. Talvez, com mais tempo, os temas complexos pudessem ser melhor desenvolvidos, mas como filme, o longa oferece uma dose de entretenimento que, se não for profundo, pelo menos é visualmente envolvente e bastante acessível.

Para os curiosos, confiram o trailer abaixo:



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