Mar Aberto - Caleb Azumah Nelson
Sinopse: Fruto de uma das principais vozes da literatura britânica da atualidade, o romance de estreia de Caleb Azumah Nelson ecoa uma história de amor que floresce entre as rupturas do mundo e a condição negra contemporânea.
Dois jovens se conhecem em um pub no sudeste de Londres. Ambos são negros e britânicos e receberam bolsas de estudo em colégios particulares, onde lutaram para pertencer. Agora, ele é fotógrafo; ela, dançarina – artistas tentando deixar sua marca em um mundo que ora celebra sua existência, ora a rejeita. De forma terna e cautelosa, apaixonam-se. Mas mesmo pessoas que parecem destinadas a ficar juntas podem ser separadas devido ao medo e à violência.
Uma história de amor lancinante e bela, Mar aberto é também uma visão intensa sobre cor e masculinidade. O romance dá espaço para questionamentos prementes da subjetividade negra: o que é ser um indivíduo quando o mundo enxerga apenas um corpo negro, como ser vulnerável quando apenas a força é respeitada ou mesmo como encontrar segurança no amor ainda que frente à possibilidade de perdê-lo.
Com uma escrita intensa e sensível, Mar aberto, romance de estreia de Caleb Azumah Nelson, rapidamente alcançou o status de best-seller internacional e ganhou os prêmios Costa e British Book, tornando-se uma das obras mais imprescindíveis da atualidade.
Das leituras do começo do ano, preciso dizer que sinto ter lido o meu favorito de 2024. Darth Nyx vem aqui falar de "Mar aberto", livro de estreia do autor Caleb Azumah Nelson que explora sentimentos profundos como pertencimento, depressão, raiva e amor. Usando da linguagem em segunda pessoa para contar a trama de dois amigos que se apaixonam, Nelson não nomeia seus personagens, deixando livre ao leitor a experiência de imersão profunda.
Quem nos conta a trama é um personagem masculino, um jovem negro, descendente de ganeses que mora em Londres e trabalha com fotografia. Sua amizade com uma jovem dançarina, também negra, expande seu horizonte no mundo do amor e também da arte, com uma conexão que sem dúvidas parece transcender o toque físico. O que começa como algo mágico, acaba se tornando sombrio e, conforme dores e pressões da vida surgem, acompanhamos a angústia se acumular e nosso personagem narrador não saber como expressar em palavras sua dor.
"Dar voz ao desejo é dar a ele um corpo para que possa respirar e viver. É admitir e se submeter a algo que está fora dos limites da sua compreensão."
O autor trabalha o racismo, violência policial e a masculinidade tóxica da sociedade de maneira poética, nos levando por momentos constrangedores e perigosos, onde o nosso personagem é parado pela policia e revistado, vê amigos viverem o mesmo e momentos até piores. Situações que vemos todos os dias na televisão, internet e ao redor nas ruas, é descrita pelo autor, que fala de uma vivência bem longe do Brasil, mas que se repete em diferentes lugares. Mas um dos pontos principais da mensagem é deixar claro que não estamos só e falar sobre nossas dores e vivências, ajuda a aliviar esse peso, nos salvando muitas vezes do pior lado de nós mesmos.
Foi sem dúvidas o meu livro favorito de 2024 e já não sinto que terei outra leitura tão impactante quanto esta já que, em diversos momentos, sentia a proximidade com a trama, ainda que ela fosse narrada por um homem. É impossível não sentir o peso da história, o que o autor transmite e a maneira como ele usa a arte e referências a outros grandes nomes, como James Baldwin, romancista e ensaísta e Kendrick Lamar, cantor e compositor.
"Você veio aqui para pedir perdão. Você veio aqui para dizer a ela que está arrependido por não deixar que ela o amparasse nesse mar aberto. Você veio aqui para dizer a ela a verdade."
Curto e poético, "Mar aberto" é um convite a viver e aprender a expressar os sentimentos bons e ruins, conhecer mais a si e ao outro e sem dúvidas, mergulhar no grande mar da vida, entendendo que é possível ter algo grandioso e precioso, ainda que as circunstâncias digam o contrário. Altamente recomendado para quem deseja conhecer uma escrita jovem, nova e ao mesmo tempo poética e fora da caixinha do comum.
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