Traumas de Guerra: 1861 - 2010

 


“O sargento perguntava: ‘O que faz a grama crescer?’ Nós gritávamos: ‘Sangue, sangue, sangue faz a grama crescer.’”


Desde muito cedo, devido a influência do meu pai, sou atraída por filmes e documentários de guerra. É curioso perceber como maior parte dos materiais disponibilizados envolvem soldados fortes com o desejo de acabar com o inimigo e a certeza da vitória. A verdade é justamente o oposto. O documentário da HBO escancara esta verdade, que muitas vezes nos passa despercebida: maior parte destes soldados vão a guerra com sonhos e, se voltam, não são mais os mesmos.


É o que percebemos na ordem cronológica das cartas que Angelo Crapsey, de apenas 18 anos, escreveu para seu amigo Leroy. Nas primeiras, Angelo se mostra orgulhoso por se alistar para lutar pela bandeira, mas também indignado com os desertores e pessoas que voltam para casa. Em um ano, seus escritos mostram seu medo e o desejo de que sua vida seja poupada. Após pouco mais de dois, ele volta a cidade natal totalmente fora dos eixos. Seu comportamento paranoico e violento faz com que seus amigos e parentes se afastem. Um dia eles decidem sair para caçar e não levá-lo junto. Angelo, aos 21 anos, os segue e comete suicídio. 


Angelo Crapsey


Após a Guerra Civil, mais da metade dos pacientes de instituições psiquiátricas eram veteranos. Apenas em 1980 é que o transtorno pós traumático se tornou um diagnóstico aceito. Antes disso, os soldados recebiam diagnóstico de histeria, melancolia, fadiga de combate e até falta de resistência intestinal.


Um dos casos que me tocou foi o de Noah Pierce, contado por sua mãe Cheryl que não permite que a história do filho seja esquecida. Noah fazia parte da Artilharia de Defesa Aérea quando seu batalhão foi designado a infantaria, sob a missão de limpar prédios que continham o exercito inimigo. Em uma carta à Cheryl, ele informou que não recebeu treinamento para isso e que atirou por instinto por estar morrendo de medo, o que culminou na morte de pessoas inocentes. Quando Noah voltou para casa, sua mãe notou que não era mais o mesmo. Ele mal dormia e quando dormia tinha pesadelos horríveis. Um dia, dirigiu até um lugar que seus amigos e ele chamavam de 'O Local', lá cravou uma faca no painel do carro em cima das fotos de seus documentos de identificação e puxou o gatilho. 


"Entramos e invadimos este país e assassinamos muitas pessoas inocentes. Então, me diga, como somos heróis?"

 

Noah Pierce


Diferente da maioria das produções que vemos hoje, Traumas de Guerra não vem com uma abordagem política: trazendo tão somente o ponto de vista dos soldados (estejam estes vivos ou não) e de seus entes queridos. Talvez este seja o segredo do sucesso deste documentário, que não foca em escolher um lado ou mostrar quem está certo ou errado - mas em mostrar o impacto que a guerra tem no coração e mente dos soldados.


Aviso com antecedência que algumas das imagens de guerra são bastante perturbadoras e muitas das histórias relatadas terminam em suicídio. Sendo assim, fique atento a classificação etária e aos gatilhos informados.


"Eu voltei, mas não estava de volta."


 

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