Eu sei o que vocês fizeram na dublagem passada...

 


Olá, amigos da internet! Teu miasma favorito, Thiago, vindo aqui de novo para assombrá-los com os fatos obscuros dessa indústria de animes!


Nas minhas últimas participações, falei um pouco sobre o mercado dos animes no Ocidente e como esse mercado vem se adaptando ao longo dos anos com a globalização e o boom dos streams que acabaram facilitando a chegada do conteúdo exibido no Oriente de uma forma mais homogênea e justa, no sentido de que agora temos muito mais acesso a grande variedade de animes e dublagens desses. Mas, um longo caminho foi percorrido para chegarmos no nosso presente…


Talvez serão poucos os que se lembram do anime “Gakkou no Kaidan” que foi exibido no canal Cartoon Network no ano de 2005 e o título em português ficou algo como “Histórias de fantasmas”, e esse nome denuncia até certo ponto sobre o que se trata a história.

O desenho em si é legalzinho, algo como “terror colegial” onde uma garota, com o seu irmão mais novo, se envolvem em várias situações sobrenaturais e acabam confrontando e selando espíritos utilizando o conhecimento de um livro escrito por sua falecida mãe. Foi um anime divertido, mas nada que realmente tenha deixado sua marca no mercado. E não leve a mal...ele é bom, mas não o bastante e, talvez por isso, o estúdio de dublagem dos EUA tenha recebido um alvará de “façam o que vocês quiserem”.




Já falamos aqui antes sobre a localização da dublagem e como os estúdios prezam em manter o teor da obra original no contexto em que o país que esteja sendo transmitido e assim, consigam interagir e se identificar com a obra.

Por vezes, dublagens mais antigas tinham demasiada liberdade para dar tais contextos e todos nós gostamos do Yusuke de YuYu Hakusho dizendo “Você é grande mas não é dois e eu sou pequeno mas não sou metade!”. Mas, essas falam foram inseridas pela direção de dublagem e foi uma forma de caracterizar o personagem para os brasileiros que iriam assisti-lo. Porém, é uma descaracterização do original e apesar de termos impactos muito positivos nesse caso, o que acontece se uma dublagem muda tanto o teor da obra que o trabalho original se perde em meio as alterações feitas para “localizar” o anime?


Mas vamos aos detalhes já que a história dessa dublagem é um pouco confusa.

Por um lado, existem artigos dizendo que quando a ADV Films ficou encarregada da dublagem, os executivos japoneses queriam que o anime desse certo no Ocidente (Estados Unidos) a qualquer custo, então deram liberdade total para que as falas e personalidades dos personagens da série fossem alteradas. Ou seja, é basicamente uma redublagem utilizando o material visual original. Existem boatos sobre supostas brigas entre os diretores de dublagem que acarretaram no resultado do trabalho e, disseram também, que a ADV simplesmente decidiu fazer como queria sem dar importância ao trabalho original. Mas, seja qual for a razão, o fato é que a dublagem em inglês de Gakkou no Kaidan é imoral, permeada de conotações racistas e alguns diriam que é um “humor South Park”.


(Sabe o que eu ouvi? Eu ouvi o som de CALA A MERDA DESSA BOCA!)


A dublagem da ADV é oficial, mas assistir o anime dublado em inglês e assistir ao original são duas experiências totalmente diferentes.

Na época, quem assistiu pelo Cartoon se deparou com a dublagem em português que seguia o tom originalmente previsto para a obra e, talvez, algumas pessoas só tenham se deparado com a famigerada dublagem da ADV recentemente com algum corte ou shorts no Tiktok. Essa versão chega a ser tão esdrúxula que muitos podem acreditar ser fake mas, o fato é que talvez muitos falantes da língua inglesa que tiveram contato com o original sequer saibam que na realidade é um anime de terror.


(Não há nada a temer, Keiichiro. Monstros só pegam pessoas más como Republicanos e nós não somos velhos o bastante para votar!)


Tudo bem, sabemos que existiam muitos pontos para melhora na obra como um todo já que, originalmente, tínhamos personagens genéricos, a dublagem japonesa do programa não era muito renomada, as personalidades eram vagas e de pouco espaço para uma real conexão com os personagens. Porém, a ADV inseriu uma linguagem chula além de características religiosas, transformando personagens da série em judeus ou católicos fervorosos apenas para tirar um sarro. Sem contar uma certa quebra da quarta parede que nunca existiu.




Quando falamos sobre as dificuldades da dublagem, geralmente elas estão atreladas a como contextualizar a obra da melhor forma possível e entregar a proposta do anime à um público que não tem as mesmas referências culturais que o público alvo original.

Enquanto aqui temos uma maioria religiosa cristã, por exemplo, o Japão tem uma maioria religiosa budista ou xintoísta. As referências e importâncias dos símbolos religiosos mudam completamente de um hemisfério para o outro e traduzir um provérbio budista para um “equivalente” cristão, às vezes, pode fazer sentido em uma dublagem pois o público que irá consumir aquele produto se identificaria melhor com esse provérbio proferido dessa forma. Porém, ao transcender totalmente essas linhas e não mais se importar com a devida equivalência ou contexto, você não está só dublando, você está ressignificando a obra.






Claro que no fim das contas a versão da ADV continua sendo uma versão oficial, então não se pode contestar que eles tiveram essa liberdade dada à eles mas, daria para chamar essa dublagem de um bom trabalho? O questionamento fica para quem quiser ver e comparar.

É um anime relativamente antigo que foi exibido originalmente no Japão há mais de 20 anos e nunca foi um super sucesso e, talvez por isso, não se ouça falar muito dele e de suas versões dubladas. Ainda assim, na minha opinião, a redublagem feita pelo estúdio norte americano foi totalmente descabida e desrespeitosa.


("Pense em um grande homem preto perseguindo você!")

Talvez isso sirva para valorizarmos um pouco mais esse trabalho já que uma dublagem pode deteriorar totalmente uma obra.

É importante respeitarmos o trabalho de nossos dubladores, mas também é importante ser crítico e entender quando a localização passa dos limites. Sei que a versão em inglês desse anime é assustadoramente ruim, ao menos ao meu ver.

Bom, por hoje é isso meus amigos da internet, espero que esse pedacinho de informação divirta vocês e até uma próxima!


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