A Balada do Black Tom - Victor LaValle



Sinopse: As pessoas se mudam para Nova York em busca de magia e nada vai convencê-las que ela não está lá. Charles Thomas Tester luta para colocar comida na mesa e manter um teto sobre a cabeça de seu pai, aceitando fazer trambiques e trabalhos obscuros do Harlem a Red Hook.

Ele sabe bem o tipo de magia que um terno pode proporcionar, a invisibilidade que um estojo de guitarra lhe oferece e a maldição escrita em sua pele, atraindo os olhares atentos de ricas pessoas brancas e seus policiais. Mas quando faz a entrega de um livro oculto a uma feiticeira reclusa no coração do Queens, Tom abre uma porta para um domínio mais profundo de magia ― despertando a atenção de seres que deveriam permanecer adormecidos. Uma tempestade que pode engolir o mundo está se formando no Brooklyn. Será que Black Tom irá viver para vê-la se dissipar?


Darth Nyx chegando com dica para quem gosta de histórias que mostram lados diferentes de uma mesma obras. Em tempos onde temos editoras buscando "limpar" livros tidos por clássicos de termos racistas e ofensivos, é hora de falar de A Balada do Black Tom, um livro curto que é um reconto de O Horror em Red Hook, de H. P. Lovecraft.


Escrito por Victor LaValle, a história vai nos mostrar o ponto de vista do jovem Charles Thomas Tester, que mora com o pai nas entranhas do Harlem, em Nova York. O garoto negro, sempre saia com seu violão, vestindo um terno e levando pelas ruas alguns itens mágicos, feitiços, livros, tranqueiras que lhe rendiam dinheiro e nenhum segundo olhar. Isso, até que ele faz uma entrega especial, um livro perigoso, que uma velha bruxa do Queens compra.  


Enquanto Charles segue sua vida, cuidando de seu pai e aceitando alguns trabalhos que não pareciam seguros, mas que lhe renderia dinheiro bom, somos apresentados de maneira crua para a maldade e a falta de sensibilidade humana, onde a cor da pele fala mais do que qualquer palavra. 

"Ninguém jamais se vê como vilão, não é? Mesmo os monstros têm a si próprios em alta conta"

Eu li esse livro com um aperto no coração, porque enquanto ficava intrigada com as artimanhas de Tom, também sentia as nuances do preconceito sofridos por ele. O livro se tornou um dos meus favoritos de cara, uma obra que é impossível você ler e sair da mesma forma que começou a leitura, ainda mais se pararmos para assistir uma reportagem ou outra dos dias atuais. Mesmo sem a magia descrita no livro, o maior terror ainda está presente no nosso meio, que é o preconceito. 


A edição impressa do livro é de capa dura e conta com um final especial, onde algumas páginas pretas contém impresso o conto original, sem alívios de tradução, com todos os termos e frases escolhidas de H. P. Lovecraft que ao longo dos anos vimos sendo amenizadas. Essa atitude mostra que na realidade, não precisamos "limpar" as histórias clássicas, elas são retrato de uma sociedade que agia de maneira errada e disseminava esses pensamentos. Precisamos dar voz para mais autores como LaValle, que buscam ressignificar algumas dessas histórias, apontar o contraste das tramas e deixar claro onde está o erro, para que eles não sejam replicados pelas futuras gerações.

"O que era a indiferença se comparada com a maldade?"


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