Sob a Pele do Lobo (2017)

Olá, meus cheirosos!

Quando assisti ao trailer de Sob a Pele do Lobo na Netflix, tive a impressão de que me depararia com uma história de amor entre um homem rústico, vivendo longe da civilização, e uma jovem. Não poderia estar mais enganada! A obra traz profundidade e vários questionamentos, entre eles: Quanta solidão é necessária para que o homem perca o traquejo social e comece a agir de forma instintiva? 

Logo no início somos apresentados a um homem que mora isolado em uma cidade fantasma localizada no alto de uma montanha. Seu nome e passado, assim como o dos demais personagens e o que levou a cidade aquele estado nunca é revelado no decorrer da história. Acompanhamos seus afazeres no dia a dia em um local inóspito e solitário, tomado pela neve no inverno e praticamente impossível de sobreviver. Durante duas vezes ao ano, ele leva a pele dos animais que abateu para vender em um vilarejo, que fica a cerca de dois dias de distância, a fim de obter suprimentos. Quando um amigo deste vilarejo indaga sobre o futuro, se não há nele o sonho de ter esposa e filhos, o personagem principal começa a considerar o modo solitário que vive e a desejar companhia. 

Em Sob a pele do lobo vemos um ser humano isolado das relações sociais e comunicação, tendo apenas o extinto de sobrevivência instigado durante o passar dos anos. O protagonista se mostra de poucas palavras e direto, o que o torna uma pessoa seca. A soma da figura feminina a história traz contraponto ao personagem exibindo sua falta de tato social e o uso da energia sendo gasta apenas em sobreviver, tornando a fala algo descartável. No decorrer das interações mais camadas são adicionadas a personalidade do homem, que passa a demonstrar seus sentimentos e frustrações com as situações vividas. 

Deixo claro que o filme possui cenas de estupro marital, contudo não as romantiza. Elas claramente não tem a intenção de excitar ou demonstrar o prazer dos envolvidos, sendo ligadas ao desejo animalesco de perpetuar a espécie. Por outro lado, expressam as relações entre marido e mulher da época abordada: de proprietário e posse. A história não afirma de modo direto o ano que descreve, mas percebemos pelas roupas, precariedade dos locais apresentados e costumes sociais que não é o período atual. As mulheres são posses que podem ser compradas, casamentos arranjados são usados como forma de pagar dívidas e até de obter lucro. 

Sob a pele do lobo é para aqueles que apreciam filmes com poucos diálogos, em ritmo mais lento, com quadros longos e baseados na interpretação de seus atores para trazer vida a trama. A obra é instintiva, mostra a crueldade da época com as mulheres e que a falta de socialização pode animalizar o homem. E você, conhece alguma obra que mostra o lado primitivo humano? 

Infelizmente não é possível discorrer muito sobre a história sem revelar partes importantes e que podem estragar a experiência. Então, para quem não assistiu a obra sugiro parar por aqui e aos que já assistiram, convido a continuar. 

👉 Spoiler

O final dessa história me deixou com um gosto amargo por ambas pessoas envolvidas. Em alguns momentos me peguei pensando no título e que o personagem, interpretado pelo ator Mario Casas, na verdade era um cordeiro sobre a pele de um lobo. Me peguei com pena dele em muitos momentos, principalmente quando mesmo doente foi atrás de sua companheira e cuidou dela, não sabendo que seu mau estar era causado por ela o estar envenenando. 

Por outro lado conseguia ver a dor da moça que se vê arrancada de seu lar para morar em um lugar isolado, com o homem que "levou sua irmã para a morte e ameaçava a vida de seu pai". Mentiras plantadas pelo pai da jovem que somadas ao estupro marital, apenas fomentavam o rancor e ódio. Senti sua necessidade de escapar daquela situação e ao mesmo tempo me perguntava porque ela não se expressava. Após o homem liberá-la de sua companhia, percebemos que partiu da cabana às escondidas e nos perguntamos o que teria acontecido a ela, porém talvez a quantidade de urubus sobrevoando o céu seja um indício de seu destino.