A Cabeça das Pessoas Negras - Nafissa Thompson-Spires
Indicado ao National Book Awards, a coletânea de contos "A cabeça das pessoas negras", chega agora ao Brasil pela editora Nacional e com tradução de Carolina Candido. A autora, Nafissa Thompson-Spires nasceu em San Diego, na Califórnia, e estudou escrita criativa na Universidade de Illinois e na Universidade Vanderbilt. Esse é seu primeiro livro e fiquei super feliz em poder conferir!
Com um prefácio escrito por Winnie Bueno, autora e idealizadora da Winnieteca, uma plataforma de doações de livros para pessoas negras, a coletânea de 11 contos nos leva para dentro da mente de negros dos Estados Unidos, com diferentes classes sociais e problemas que vão desde trabalho, escola, desenvolvimento pessoal, faculdade e a rotina que nos faz lutar todos os dias.
"... as cabeças falavam acima de mim, e o mosaico formou-se em sangue, e o que é um conto senão um contorno de giz feito a lápis ou com palavras?"
Gosto de me considerar uma leitora que vem se acostumando mais e mais com contos e ter uma leitura como essa, que nos tira da nossa realidade brasileira e ainda assim traz grandes identificações, foi uma experiência maravilhosa. Não apenas pelo teor importante de um tema que precisa ser trazido mais à tona, mas pelo fato de que alguns contos tem aquela sensação de rotina comum, simples, onde o psicológico das pessoas acaba sendo um fator determinante de suas ações, com ou sem influência do que possuem ao redor.
O primeiro conto que já nos apresenta um jovem negro que gosta de usar lentes de contato azuis, com cabelo platinado e que faz cosplay em eventos e me pegou de surpresa com um final que foi intenso e senti que assim seria pelo livro todo. Porém, como disse, o livro surpreende com situações rotineiras que uma visão de fora pode considerar banal, mas a autora consegue nos transportar para a situação quase como se vivêssemos tudo.
"Às vezes, o inimigo que se parece com você é um treinamento para o inimigo que você mesmo representa. A violência que vem de dentro atenua a violência que vem de fora. Ela prepara você, cria calos, preenche buracos."
O racismo é o ponto central da obra, mas podemos notar que a grande questão é mostrar o negro como um ser humano como qualquer outro, saindo de vários estereótipos tão conhecidos por todos e mostrando uma complexidade particular que qualquer mente humana pode ter ao encontrar obstáculos na vida ou querer se sentir confortável em sua própria pele.
O livro vem com várias notas de rodapé, com referências que nem todos iremos conhecer e que de forma alguma prejudica o desenvolvimento. Na verdade, a autora fazer tantas referências acaba deixando o livro mais rico e a editora Nacional faz um trabalho maravilhoso ao nos esclarecer cada um dos pontos e traduções.
"...ela leu que, quando mulheres pretas morrias, não era glamoroso, e pessoas que não fazia conexões literárias metonímicas entre elas, nem mesmo com linchamentos - como faziam com homens pretos; os corpos das mulheres pretas apenas morriam, saíam de cena, e isso a deixava ainda mais triste."
Para finalizar, o título do livro foi emprestado de um texto homônimo do primeiro médico americano negro a ter um diploma e se formar, James McCune Smith. Ele estudou na Escócia e ao voltar para os Estados Unidos, se tornou o primeiro negro no país a gerenciar uma farmácia. Ou seja, com um assunto que sabemos que não é de hoje, a autora nos leva em uma jornada rica que recomendo para todos, negros ou não.
Um enredo que nos faz entender a mente de crianças, jovens, adultos e pessoas próximas, saindo de estereótipos e nos fazendo viajar para todos os lados, com personalidades bem destoantes uma da outra.
Uma leitura necessária e fácil demais de ler!
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