Meu Coração & Outros Buracos Negros - Jasmine Warga
Sinopse: Um tema amargo, mas necessário. Em Meu coração e outros buracos negros, a estreante Jasmine Warga apresenta aos leitores um romance adolescente que aborda, de forma aberta, honesta e emocionante, o suicídio. Aysel, a protagonista, enfrenta problemas com a família e os colegas de escola, como tantos jovens por aí, e, aos 16 anos, planeja acabar com a própria vida. Mas quando ela conhece Roman num site de suicídio, em busca de um cúmplice que a ajude a planejar a própria morte, num pacto desesperado, a vida dos dois literalmente vira de cabeça para baixo. Aos poucos, Aysel percebe que seu coração ainda é capaz de bater alegremente. E ela precisará lutar por sua vida, pela vida de Roman e pelo amor que os une, antes que seja tarde.
Antes de começar com a resenha deste título, gostaria de deixar aqui um pequeno aviso rápido: A história narrada pela autora trata de temas delicados como depressão e suicídio. Portanto se isso pode ser um gatilho para você talvez não seja uma leitura recomendada. Fale com alguém, não guarde seus sentimentos, divida com uma pessoa confiável ou procure um profissional. Se quiser conversar, o Brasil oferece atendimento nacional e gratuito no Centro de Valorização a Vida pelo número 141, além de chat, mensagem e e-mail pelo site: www.cvv.org.br
Dito isto, vamos à resenha.
Quando peguei este título em mãos eu não sabia a sinopse, não tinha lido outras resenhas e muito menos conhecia a autora. Foi uma escolha as "cegas" porque justamente o título é muito parecido com o que sinto e, curiosamente, falei que: É um título que descreve minha vida.
A música, especialmente a clássica, especialmente o "Réquiem em Ré Menor" de Mozart, tem energia cinética. Se ouvir com muita atenção, vai escutar o arco do violino tremendo sobre as cordas, pronto para acender as notas. Botá-las em movimento. E, quando as notas estão no ar, colidem umas com as outras. Faíscam. Explodem.
A história é escrita por Jasmine em formato de um diário, mas que logo notamos estar em uma contagem regressiva, começando com "Faltam vinte e seis dias". Aysel é uma jovem que está no ensino médio e já não vê mais razões para permanecer viva. Desde a primeira página do livro, a garota descreve como vem pensando cada vez mais em suicídio e seu motivo para tal decisão mas que, curiosamente, não sente que irá conseguir sozinha. Então precisa de um "parceiro", que está em busca em um site comum entre pessoas que estão na mesma condição que ela. Sua depressão é descrita por ela como uma "lesma negra" que vai corroendo toda e qualquer ponta de felicidade que pode surgir e, com isso, ela segue na espera até que um dia surge sua oportunidade perfeita na forma de uma mensagem no fórum.
É quando conhecemos Roman, um garoto que também está em busca de um parceiro(a) de suicídio mas, diferente de Aysel, ele precisa mais de um álibi para seus atos do que um último empurrãozinho. Roman tem seus próprios traumas e cargas, suas próprias dores e sua própria "lesma negra" que devora tudo ao redor. Mas o mundo dele colide com o inesperado encontro da jovem de cachos negros, olhar vazio e piadas ruins, Aysel.
Se todos os dias fossem assim, não acho que estaria tão ansiosa para partir. O problema é que é um milagre nevar em março. Não se pode viver de milagres.
O livro trabalha os mundos desses personagens, dores e problemas de forma que desde o inicio o leitor tem aquele sentimento de que existe esperança para eles, que eles podem sim se salvar. Porém, ao longo das páginas, fica claro também o que ELES sentem e como isso tem um significado totalmente diferente. É instigante notar como estando do outro lado é fácil dizer: Existe saída. Quando, na verdade, os personagens estão como muitas pessoas ao nosso redor, sem enxergar a saída em si e vendo esta escolha como a única opção, o que na verdade não é.
Durante a leitura eu me senti levada em alguns trechos a fechar o livro e esperar alguns minutos antes de continuar, o que não impediu que eu terminasse ele com apenas aproximadamente oito horas de leitura. Era intenso me lembrar de alguns dias difíceis que vivi e como poucas palavras foram suficientes para me tirar do fundo do poço, tudo que eu queria era que alguém fizesse o mesmo pela Aysel e por Roman. O peso das culpas, dores, palavras é difícil de se processar quando se é mais velho, que dirá quando se ainda está aprendendo o que é a vida, onde tudo é mais intenso, tudo é novidade e todos os sentimentos estão surgindo de uma vez só.
Infelizmente é comum ver pessoas mais velhas ainda julgando o sentimento de deslocamento, a dor e a depressão na adolescência, principalmente por muitas acharem que isso é algo banal. Mas a verdade é que não é. Leituras como esta são extremamente importantes para pais, amigos, parentes de jovens adolescentes, independente se estes passaram por momentos difíceis ou não. São livros assim que nos ajudam a compreender mais sobre os sentimentos deles e como ouvir e abrir espaço para que seja compartilhado.
Sem spoiler sobre o final do livro.
Deixo aqui um desafio para quem puder e conseguir ler tal tipo de literatura.
Faça o desafio de realizar essa leitura sem julgamentos, sem preconceitos. Veja a história desses jovens pelo o que ela é. Tente se lembrar do impacto que estas histórias teriam se talvez fosse com você.
Vivi esse exercício durante a leitura e posso dizer que meu coração só queria me levar para dentro do livro e abraçar os personagens, o que me abriu os olhos para as pessoas ao meu redor. Às vezes um abraço, um sorriso, um elogio ou menos ainda: um bom dia, pode salvar uma vida.
Comentários
Postar um comentário