A mão Esquerda da Escuridão - Ursula K. Le Guin
Olá Amigues da internet!
Teu Miasma de plantão, Thiago, voltando de uma missão diplomática interplanetária para falar um pouco a respeito dessa obra fantástica de ficção científica, me disponibilizada pela Editora Aleph. A Mão Esquerda Da Escuridão de Ursula K. Le Guin é um livro com diversas peculiaridades, tanto em sua narrativa quanto em sua abordagem. O fato da autora ter escolhido escrever uma ficção científica super futurista e ambientar ela em um cenário medieval, é um dos motivos pelo qual o livro me cativou. Então, vamos falar um pouco mais da história. Em um futuro distante, a humanidade já alcançou o espaço em ampla escala e já foi fundada uma grande comunidade universal que diversos planetas adotaram. O personagem principal, Genly Ai que é um experiente emissário, é enviado ao planeta Gethen com o objetivo de convencer os governantes a entrarem para tal comunidade. Porém, ao chegar, se deparou com uma cultura tecnologicamente precária (quando não arcaica) e mais do que isso, se deparou um um obstáculo cultural muito maior: em Gethen, seus habitantes não tem gênero definido. O planeta gira em torno de uma cultura totalmente desintoxicada por preconceitos de gênero, lá seus habitantes são a maior parte do tempo andrógenos e só assumem uma identidade de gênero binária em determinado período conhecido como Kemmer. Essa identidade não binária é totalmente fluída, podendo variar de Kemmer pra Kemmer de acordo com as necessidades e vontades do indivíduo. Com essa cultura desintoxicada de preconceitos de gênero ambientada em um cenário medieval em grande parte monárquico, não é por menos que Genly não consiga se situar perante a essa sociedade de maneira simples. Além de ter de lidar com uma constante desconfiança vinda dos nativos do planeta, ele se depara com um governo corrupto, sua missão diplomática corre um risco constante e em dado momento, sua vida também. Enquanto eu lia esse livro eu notei o como o machismo é tóxico. Mesmo que a autora não foque tanto assim nessa discussão, o comportamento de uma sociedade onde não existam indivíduos atrelados a um gênero em específico é notoriamente mais acolhedor e confortável. Não existe uma degradação do próximo ou uma exigência que ele cumpra determinado papel, o fato de não existir gênero por si só torna ridícula discussões como “isso é para homens e aquilo para mulheres”. Uma sociedade totalmente moldada pela neutralidade de gêneros, mas isso a torna perfeita?
Não, nem de perto.
Ainda existem diversos problemas que independem dessas discussões, ambição, corrupção e até mesmo preconceitos. Aliás, o livro valoriza muito mais as discussões sobre disputa de poder e corrupção do que sobre identidade de gênero. Pessoalmente não achei Genly um personagem tão carismático, mas o protagonismo me levou a gostar dele eventualmente. Para mim, um dos maiores charmes do livro é o de que apesar de ser uma ficção científica, existe toda uma questão de corte medieval no plano de fundo, justamente pelo planeta não ter desenvolvido tecnologia. Ver o personagem lidar com certas limitações é interessante, mas mais do que isso, poder ver a interação dentre indivíduos que estão basicamente em pontos diferentes do desenvolvimento científico é assustador e prazeroso, pois Genly tem que achar uma maneira didática para abordar sua causa de forma que não pareça loucura. Para uma sociedade que mal tem meio de transporte motorizado, como que você explica que veio de uma nave vinda do espaço sem parecer um completo lunático? Como ele pode provar seu ponto sobre uma comunidade UNIVERSAL, enquanto os líderes desse planetas são totalmente geocêntricos?
Ver o desenvolvimento desse contexto do personagem e seu embate ideológico constante é que da ao livro sua forma. A escrita de Ursula é fluida e atraente, ela consegue te ambientar no clima medieval sem deixar cair o quê de ficção científica da história, além disso o suspense na trama consegue te manter atento a ficção, mesmo em passagens um pouco mais estagnadas. Talvez não seja uma leitura simples a princípio, mas a forma que ela discute nossos preconceitos de uma forma sutil e intrínseca é realmente primorosa e torna essa leitura algo bem maior do que apenas uma ficção científica diferentona. E existem passagens inesperadamente intensas ao decorrer da leitura que realmente dão um gás para manter o ânimo! Deixo a recomendação para qualquer um que queira ver uma ficção científica por um ângulo diferente e até mesmo para quem procure um quê de suspense!
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