Guerra Sem Fim - Joe Haldeman
Olá Amigx da internet, teu miasma favorito, Thiago, está aqui hoje para falar sobre o que talvez seja uma das ficções científicas mais intensas e realistas que já li.
Mas antes de falar sobre o livro, queria deixar minha gratidão pela editora Aleph que me deu a oportunidade de resenhar essa obra. Além disso, deixo o meu elogio ao trabalho de capa. A editora deu ao livro seu devido respeito tanto na arte quanto no acabamento.
Agora, sem mais delongas, vamos falar um pouco sobre GUERRA SEM FIM de Joe Haldeman.
Guerra Sem Fim poderia muito bem não ser uma ficção científica, poderia se tratar de uma narrativa biográfica como a de Modiano que resenhei anteriormente. Para mim, a atração do livro é a forma objetiva e crua que ele trata os confrontos, talvez pela experiência empírica do autor em campo de batalha, pois Haldeman chegou a lutar no Vietnã.
O realismo voraz do que decorre durante um combate somado a uma escrita corrida, quase que ansiosa, traz à nós, os leitores, um sentimento de adrenalina bem característico. Talvez esses pontos sejam o que tornam a narrativa algo único e o que faz o livro permanecer nas listas de indicações contemporâneas de ficções científicas, mesmo que a obra tenha sido escrito na década de 70.
No livro, acompanhamos a ascensão militar de um jovem físico, William Mandella, que foi chamado pelo alistamento obrigatório a participar dos primeiros confrontos contra uma raça alienígena, os Taurinos. Esses confrontos são travados em planetas de ambientes hostis aos humanos e anos luz da Terra. Então, para isso ser viável, era necessário um treinamento intenso e perigoso utilizando um maquinário desenvolvido para a guerra, que não só era uma arma, como também uma roupa de proteção.
Além disso, era necessário viajar anos luz em poucos instantes. Ou seja, os soldados deveriam entrar em portais colapsares que possibilitaram a viagem. Porém devido aos efeitos de se viajar próximo a velocidade da luz, os soldados sofriam uma dilatação temporal, ou seja, para alguns que vão ao fronte de batalha e passam meros 4 anos, ao retornar para a Terra se deparariam com um planeta 30 anos no futuro, uma realidade muito distante para aqueles soldados que ficaram presos no tempo.
Ao meu ver, a narrativa se divide entre as missões no fronte de batalha e a distopia vivida a cada retorno ao planeta que evoluía de forma desenfreada. O planeta passou a viver em função da guerra e isso permitiu certas ações autoritárias por parte do governo.
Existe uma problemática na narrativa do fato do governo “incitar a homossexualidade” para que seja feito assim um controle de natalidade, que era necessário devido a superpopulação e a fome e posso abordar isso de diversas formas pois, sinceramente, esse ponto em especial me deixou um pouco desanimado com a leitura. Porém, me dei conta de que o autor faz dos gays uma maioria e como toda a maioria estes se tornam opressores.
Talvez essa inversão de papel não tenha sido a intenção de Haldeman, mas podemos tirar desse contexto como a heteronormatividade é hostil à comunidade LGBT, colocando a perspectiva da comunidade na visão do hétero. Mas a intenção não é problematizar esse ponto, a questão real é que o mundo se torna cada vez mais distópico, principalmente para os soldados que voltam para casa sem realmente possuir um lar ou um lugar nessa nova ordem, tornando o campo de batalha até mais acolhedor do que a realidade no planeta natal.
A crítica dessa narrativa se estende até os dias atuais.
Haldeman trata com objetividade o mercado da guerra e também sobre os outros aspectos que a permeiam. A incitação da violência a outras culturas, mesmo na propaganda, uma hostilização subliminar que somada a fatores como a fome em escala global e a violência gerada pela pobreza, faziam do campo de batalha um lar doce lar para os soldados.
Essas discussões levantadas ao longo da obra dualizam com a evolução tecnológica no campo de batalha. Os trajes vão cada vez mais ganhando novas funcionalidades para lidar com a resistência dos Taurinos e algumas cenas de combate se tornam cruéis demais, intensas demais e realistas demais. Um exemplo é o aparato chamado “Campo de Estase” que causava uma súbita desaceleração a tudo que não estivesse equipado com um traje em uma determinada área.
A questão é: a guerra obriga desenvolvimentos tecnológicos, a guerra força a ciência a se tornar mais criativa e mais aplicada, mas isso é algo que vivenciamos mesmo em nossa realidade não fictícia, não é? A corrida espacial, a energia nuclear e até mesmo a própria internet são frutos da guerra.
Talvez a genialidade de Haldeman esteja em fazer desse recorte específico da vida de seu personagem em sua guerra sem fim, uma porta para o diálogo sobre a guerra como um todo. Chega a ser irônico que a leitura se permaneça tão atualizada mesmo nos dias atuais.
Irônico e desesperador.
Acredito que em suas 348 páginas, esse livro carrega uma perspectiva bem sã e concisa sobre o que é a Guerra. A narrativa dividida entre a vivência distópica e as missões intensas e solitárias do fronte de batalha é instigante e abrasiva.
Existem ainda muitos assuntos que o livro abre para discussão, desde o amadurecimento precoce que a guerra traz aos jovens soldados e que pode estar metaforizado nessa dilatação temporal sofrida por eles; até a indústria da guerra beneficiar somente uma camada seleta da sociedade.
Outro ponto é o conformismo gerado pela propaganda.
São tantas as discussões que me sinto incapaz de abordar todos os assuntos aqui. Porém, posso recomendar essa leitura para todos, mesmo quem não seja fã do gênero de ficção científica.
Guerra Sem Fim é um retrato único e preocupante do comportamento humano.
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