O que Kiznaiver diz sobre convívio social.
Gênero: Ação , Drama , Ficção Científica , Suspense
Autor: Mari Okada
Direção: Hiroshi Kobayashi
Estudio: Trigger
Sinopse: O Sistema Kizuna é um sistema incompleto para a implementação da paz mundial que conecta pessoas através das dores. Todos que foram conectados a esse sistema são chamados de Kiznaivers. Certo dia, Sonosaki Noriko diz a seu colega de classe Agata Katsuhira que ele havia sido selecionado para ser um Kiznaiver. O Sistema Kizuna permite que Katsuhira compartilhe seus ferimentos e se conecte aos colegas de classe cujas vidas e personalidades são totalmente diferentes da dele. A Cidade de Sugomori foi construída em terreno recuperado, mas com o passar dos anos, a população da cidade está caindo. A história se passa nesta cidade, onde Katsuhira e seus amigos vivem.
Imaginem um mundo onde as pessoas estão interligadas de tal forma que a sensação de dor é compartilhada por todas as pessoas, ou seja, se você topar com seu mindinho em uma mesa todos no mundo iriam sentir a dor. Porém, como ela é compartilhada cada pessoa sentiria apenas uma fração pequena da dor real, incluindo você.
A proposta de Kiznaiver gira em torno deste potencial.
Um grupo de estudantes é selecionado e feito de cobaias para um experimento onde os participantes irão dividir suas dores por determinado tempo, assim esses colegiais problemáticos passam a ter que lidar com uma série de testes extremos com o objetivo de fortalecer seus laços.
O Seinen de Roji Karegishi mais tarde adaptado para o anime de 12 episódios dirigido por Hiroshi Kobayashi a princípio parece uma proposta mais simplista, porém o desenvolvimento dos personagens, da trama e o idealismo que leva o experimento a ser aplicado durante a obra é o que a torna interessante e até filosófica.
Como o foco é o convívio desse grupo de adolescentes selecionados, cada um tem uma história a ser desenvolvida. No entanto, o personagem central é um garoto chamado Katsuhira Agata que possui um distúrbio que o impede de sentir dor física, além de aparentemente também não ter noções ou inteligência emocional.
Algumas das passagens com esse personagens são agonizantes pois ele possui o pensamento prático de que já que ele não sente dor, ele não se importa de apanhar ou de se ferir.
Esse pensamento acaba entrando em conflito quando o experimento liderado por Noriko Sonozaki, implica em que toda vez que Agata sente dor, os demais participantes do experimento também sintam, mesmo que apenas uma parcela.
Noriko também é uma estudante colegial, porém sua maturidade dentro da obra faz com que nós acabemos vendo-a como alguém bem mais velha, mesmo que eventualmente ela ainda nos relembre de que na verdade é apenas uma adolescente.
Os outros personagens tem características simples e estereotipadas, mas o interessante é o desenvolvimento de cada um. Dentro do grupo temos Chidori Takashiro, uma amiga de infância de Agata que conserva um amor pelo protagonista. Ela é emotiva e passional e bem altruísta.
Outro personagem é Hajime Tenga, a princípio ele tem um aspecto de delinquente juvenil, porém logo nos é demonstrado que o personagem tem um certo senso de justiça.
Ele é forte e atlético mas não é muito bom em se expressar de forma amena protagonizando alguns diálogos e discussões inflamadas ao longo da obra.
Nico Niiyama, parece ser um ponto bem fora da curva. A personagem possui uma personalidade excêntrica, afirmando poder ver fadas e agindo de forma infantil a maior parte do tempo. Além de ter uma certa inépcia social, ela é delicada e expressiva e costuma ter um ar inocente na maior parte do tempo.
Tsuguhito Yuta, Um mulherengo convicto. Dentro dos personagens da obra talvez é o que tenha a personalidade mais crível. Sempre com um ar de superioridade, ele se prende a razão e mantém distância da maioria dos seus colegas de experimento. Mas aos poucos os aceita e acaba agindo como um intermediador do grupo.
Honoka Maki, talvez a personagem mais complexa em questões emocionais do grupo. É arisca com grupo a maior parte do tempo, inteligente e introvertida, tem uma tendência ao isolamento e odeia compartilhar seus sentimentos.
E finalizando o grupo temos Yoshiharu Hisomu, um personagem que protagonizou uma grande parte dos alívios cômicos da obra, principalmente por ter uma característica peculiar, ele é assumidamente masoquista.
Por mais que soe problemático ter em um grupo onde todos compartilham a sensação de dor, o roteiro não foca em alguém que goste e busque dor. A característica aparece com certa frequência, mas a personalidade jovial do Yoshiharu acaba sendo um amenizante, e durante a obra ele se priva de algumas sensações para não prejudicar os demais.
Uma vez apresentado o grupo fica mais fácil de desenvolver a analise, pois Kiznaiver não é uma aventura sobre adolescente superando desafios com superpoderes, é uma obra que fala sobre o poder da empatia e a importância da mesma.
Começando pelo Ideal do experimento que afirma que se todos no mundo fossem capazes de entender as dores alheias, as pessoas iriam buscar se ajudar e se compreender com maior frequência. Um ideal tão forte e tão comovente que algumas empresas de tecnologia e informação investiram no desenvolvimento do aparato que permitiria isso.
Além do aparato, a empresa junto ao governo conseguiu criar uma cidade onde seriam conduzidos os experimentos, ou seja a maior parte dos desafios das cobaias dessa experimentação são conduzidos em ambientes controlados e monitorados, além de que o próprio chip que é inserido para ativar o sistema passa informações pertinentes como frequência cardíaca, ondas cerebrais, localização e etc.
A questão é que os jovens são obrigados a conviver e interagir e, principalmente, evitar ao máximo que eles acabem se ferindo.
Em alguns pontos o experimento os obriga a falar verdades constrangedoras sobre si mesmos para evitar que se machuquem e, quanto mais a obra se desenvolve, mais o experimento é conduzido a interação com o psicológico de cada personagem, pois o objetivo é gerar empatia e o entendimento da dor é apenas um passo para tanto. É essencial também o conhecimento do que se passa no contexto de cada um.
As personagens começam a confiar uma nas outras, se abrem e passam a se respeitar, mas acho que algo que nem o anime estava esperando promover acaba acontecendo com quem presta atenção na entrelinhas da obra.
Você não precisa gostar de alguém para ser empático e respeitar essa pessoa. Inclusive em muitos momentos o grupo está em conflito mas, pelas circunstâncias, eles acabam contornando isso de forma a resolver as questões evitando muitos efeitos colaterais.
Pessoas diferentes com problemas diferentes e pensamentos diferentes são obrigadas a conviver o tempo todo, mas em muitas ocasiões a visão egoísta de cada um impede o convívio saudável.
Kiznaiver de forma simples e divertida consegue trazer aos seus expectadores esse sentimento acolhedor onde nós acabamos por entender as dificuldades de cada indivíduo em aceitar determinadas atitudes ou ações.
A grande mensagem da obra é que suas atitudes surtem efeito em todos a sua volta, mesmo quando dizem respeito somente a ti. Porém, mostra também que não é errado tomar tais atitudes, apenas é necessário ter compreensão de que sempre existirá repercussão.
Como um todo é uma obra divertida, cheia de reviravoltas e boas doses de drama.
Cada personagem é razoavelmente trabalhado individualmente e a segunda metade da série torna o relacionamento entre as cobaias bem intenso.
Os aspectos mais técnicos da obra não são tão chamativos. Gosto da direção apesar de que acredito que em dado o momento, a roteirização ficou um pouco corrida.
A qualidade de animação é mediana, mas ainda assim deixo a recomendação para quem que ver a psique humana trabalhada em diversos pontos de vista e um idealismo sinceramente bondoso que desencadeia em uma torrente de drama.
A nota fica em um 7/10.
Talvez com um ou dois episódios a mais o anime conseguisse desenvolver alguns pontos que me fizeram falta.
Comentários
Postar um comentário