Uma Praça em Antuérpia - Luize Valente
Sinopse: Após sua estreia literária com O segredo do oratório, sucesso de público e crítica, Luize Valente volta a mergulhar, de maneira ainda mais surpreendente, na história de uma família de migrantes em Uma praça em Antuérpia.Com domínio da narrativa, que vai e volta do ano-novo de 2000 em Copacabana para os anos da eclosão da Segunda Guerra na Europa, Luize reconstitui a desgraça imposta pelo nazismo aos judeus, razão pela qual muitos deles viriam fazer a vida no Brasil.
Reunindo sensibilidade pelo drama humano e extensa pesquisa histórica, Luize retrata a chaga do nazismo na miudeza do cotidiano, na intimidade das famílias alemães e europeias, com bárbaros desdobramentos em Portugal, no lar de Clarice e Olivia, de onde a narrativa parte para ganhar o mundo e o Brasil. Acompanhamos a fuga de Clarice e seu marido, o pianista judeu Theodor, por grande parte da Europa, sempre um passo à frente da perseguição nazista, fuga que leva parte da família a cruzar o oceano. Como se não bastasse essa narrativa de tirar o fôlego, Luize presenteia o leitor com um final emocionante e totalmente inesperado.
E esse foi um dos sorteios entre os livros da minha lista que foi uma surpresa muito boa.
E foi também meu primeiro contato com a autora, em um livro com uma narrativa que geralmente não seria minha primeira escolha e onde o enredo todo se tornou algo incrível de ler!
Assim como a sinopse diz, seguimos a história das gêmeas Clarice e Olívia, desde o começo da vida, as dificuldades de sua família, com um parto complicado, até uma infância onde o contato com o pai era algo frio e triste. Ainda assim, as garotas eram rodeadas pelo amor da avó materna e a vida de ambas foi se encaminhando, com os anos passando até um casamento acontecer apenas com uma delas. Olívia e Clarice acabaram se separando quando Olívia se casou, ambas começando a seguir seus caminhos e decisões em locais diferentes.
Ah, vale dizer que enquanto vamos conhecendo a infância das garotas, pulamos para o tempo atual onde conhecemos tudo pelos olhos de Olívia, que agora é uma senhora de 83 anos, virando o ano de 2000 no Rio de Janeiro, conversando com sua neta, Tita. E é por essa conversa entre as duas que toda a história vai se desenrolando.
"- Antigamente as esperanças eram como as joias de família que passavam das avós para as netas e bisnetas. Agora não é assim porque, em cada instante que passa, nós temos necessidade de enterrar uma ilusão."
Então, seguimos por Portugal, onde tudo começa. Depois que se separam, Clarice acaba também conhecendo Theodor, um personagem que terá uma importância enorme em toda a trama.
Theodor é um pianista que ama música, judeu e...no meio de todo o caos que começa com a guerra, todo o relacionamento que ele desenvolve com Clarice acaba sendo interrompido.
Como se não bastasse Theodor tendo que lidar com mentiras, disfarces e um jeito de fugir do preconceito enquanto torce para que a guerra não aconteça, Clarice se vê tentando uma vida sozinha, conhecendo boas pessoas e até fazendo amizade com Mariano, um homem que acaba tendo outra grande importância na história e ajuda muito Clarice.
"O que ela sentia era tão intenso e profundo que era impossível ser só dela. Nenhum ser humano era capaz de se encher, transbordar de tanto amor, se não lhe fosse dado. O que ela sentia também viera de fora para dentro. Clarice recebera de Theodor e vice-versa. "O amor é meu mas te pertence". Ele dissera tantas vezes. Eles eram um do outro."
O livro é tão cheio de acontecimentos que acho que o melhor seria me conter mais e parar por aqui.
O que podemos entender é que o livro irá girar em torno desses personagens tentando viver em uma época em que a Alemanha pertence a Hitler, os nazistas e a guerra está apenas começando.
O bom é que o livro revela um grande segredo logo no começo e seu enredo acaba sendo o desenrolar da história, onde as peças vão sendo ligadas para chegar até um final com mais revelações ainda.
E tudo isso transforma a trama em algo intenso, que faz a leitura fluir rapidamente, mas não totalmente fácil porque é absurdamente triste ver em que ponto a humanidade foi chegando, apenas por conta de um ódio absurdo, preconceito extremo e falta de empatia.
O que também é o ponto positivo que, mesmo sendo uma história fictícia, com romance e personagens criados, os fatos históricos são bem reais, presentes e contam um pedacinho da dificuldade que era viver naquela época, ser quem você era e acreditar no que queria.
"A guerra tinha mesmo esse estranho poder de afastar entes queridos e unir desconhecidos, para sempre."
O livro tem aquele final que te deixa morrendo de curiosidade e vontade de saber mais. A autora escolhe um bom momento para finalizar uma trama incrível, mas ah...como eu queria ter algumas páginas a mais para poder me dar aquela paz de espírito e conhecer alguns detalhes da finalização.
Em conclusão, o livro tem um enredo incrível, que conta a história de uma família nos dias atuais e mostra como o passado é importante e não deve ser esquecido.
Sem contar que a trama é feita com sensibilidade e cuidado com as informações reais, deixando a história fluir e nos pegar de jeito.
Recomendo para quem gosta de uma leitura mais pé no chão, com direito a romance, momentos tristes e bom apreço aos pequenos momentos que nos fazem felizes.
Sem dúvida uma leitura que me surpreendeu muito bem. =D
"...O amor é o sentimento mais nobre que um ser humano pode ter. No momento em que ele é entregue e recusado, transforma-se em tristeza, mas naquela tristeza que carrega a saudade dos dias passados"
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