Tudo que você e eu poderíamos ter sido se não fôssemos você e eu - Albert Espinosa
Hoje volto a falar de um autor que me impressionou bastante em meu primeiro contato com ele, Albert Espinosa e seu Se você me chamar eu largo tudo... Mas por favor me chame. nos impressiona já a partir do título e não deixa a dever em nada ao longo da leitura, se você não viu, pode conferir a resenha que fiz AQUI. O livro que falo agora foi o livro de estréia do autor espanhol e nos mostra que o cara já entendia de títulos desde o começo!
A bondade e a maldade são como os pontos cardeais de cada um. Como aquele jogo em que temos que ligar os pontos para obter uma imagem.
Os pontos estavam na minha mão
Começamos o livro dentro do sonho de Marcos, e ao longo dele o personagem conta sobre a importância do sono e principalmente dos sonhos em sua vida, a fuga que eles representam do caótico mundo real e como são importantes para ele; ao mesmo tempo que sabemos dessa importância, sabemos que Marcos decidiu abrir mão de tudo isso. Pois é, inventaram uma injeção que consegue impedir de vez que as pessoas durmam! E tendo recebido no dia anterior a notícia do falecimento de sua mãe, a pessoa mais próxima dele, ele movido pela dor e pelo luto decide que sua vida não pode continuar sendo a mesma.
Mas tenho de lhes dizer que não acredito no amor; deixo isso claro desde já para que não restem dúvidas. Não acredito em amar, não acredito em morrer de amor, não acredito em suspirar por outra pessoa, em deixar de comer por alguém especial.
Marcos é impedido de tomar a injeção por um telefonema que o manda ver o noticiário; todas as manchetes anunciam o mesmo, um extraterrestre está na Terra, e a pessoa na ligação pede que ele vá até onde essa criatura está.
Na leitura deste segundo livro, Espinosa me confirmou algo que percebi no primeiro, ele é um autor que constrói e acrescenta informações sobre sua história durante todo o livro, nos últimos capítulos ainda estamos descobrindo coisas fundamentais sobre os personagens, então qualquer informação a mais que solto já pode ser considerada spoiler, então paro aqui com as revelações sobre o enredo, apenas saiba que Marcos tem um dom, e ele pode ser capaz de desvendar a verdade sobre esse estranho entre nós.
Temos medos. Todo mundo tem medos. Mas o bom da vida é que quase ninguém nos pergunta quais são os nossos.
As pessoas os intuem, os farejam, os descobrem um dia em um aeroporto, no meio de uma rua escura, ao tomar um ônibus no meio de uma cidade desconhecida... E, de repente, percebem que temos medo de voar, da escuridão, de ser assaltado, ou de amar e entregar no sexo parte de nós.
Naquela noite, enquanto apertava as injeções, eu tinha um medo terrível de perder... de perder o sono, de me transformar em mais um que havia parado de dormir. Em mais um daqueles da praça. Minha mãe me disse certa vez: "Ser diferente depende apenas de quantos estejam em seu bando".
Ficou claro a junção de elementos "fora do comum" nesse livro e é isso que Albert Espinosa faz, não se impede pela "razão", tudo é válido para que sua história seja contada, e história essa que apesar de toda a fantasia envolvida é carregada de realidade, ao longo de pouco mais de 150 páginas e 19 capítulos lemos sobre amor, sexo, morte, as dificuldades da realidade e as questões fundamentais que nos rodeiam, tudo envolvido por uma história intrigante e muito gostosa de se ler.
- Seja valente - me disse. - Na vida, no amor e no sexo. As pessoas esquecem que devem pedir carícias e beijos. Nunca pense que esse é o limite do seu parceiro no momento. Quem dera você entendesse que é preciso descriminalizar ações que se relacionam com o sexo. Uma carícia, um beijo, solicitar o calor de uma mão no umbigo não devem ser acompanhados do sentimento de que isso vai provocar ou terminar em sexo. Um abraço não deve ser de dez segundos, nem de trinta, pode durar oito minutos, se necessário. Acariciar um corpo não deve supor sempre sexo. Você deve apreciar a carícia como parte da sua vida.Espinosa nos concede uma história bem complexa, cheia de elementos fantásticos e fora do "mundo real", mas ele nos conta isso com tanta naturalidade, desenvoltura e sinceridade que em momento algum duvidamos da história e dos elemento que a compõem. Ao nos perder nos pensamentos, angústias e questões de seus personagens acabamos lidando com nossas próprias questões e tomando para nós as reflexões que ele nos apresenta.
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