Canção Para Ninar Menino Grande - Conceição Evaristo

 


Sinopse: Trata-se de um mosaico afetuoso de experiências negras, um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute com maestria as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com as mulheres negras. O livro é um mergulho na poética da escrevivência e ao mesmo tempo um tributo ao amor sob uma ótica poucas vezes vista na literatura brasileira.


Darth Nyx por aqui! Hoje vamos falar de uma das joias raras que está na lista de leituras obrigatórias da FUVEST 2026: Canção para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo.


Escrito de maneira que mais se assemelha a uma colcha de retalhos amorosa, a história vai narrar dores, amores e uma profundidade de experiências negras. O personagem central, Fio Jasmim, é um homem que cresceu num ambiente onde as contradições e complexidades em torno da masculinidade dos homens negros fica clara desde o seu início, quando vê negado a ele o papel de um príncipe em uma peça escolar. Assim vamos o seguindo ao longo da obra, replicando comportamentos ensinados pelo pai e vemos, com isso, os efeitos nas relações com as mulheres negras que ele conhecia ao longo da vida.


Conceição Evaristo consegue transmitir um universo de sentimentos, usando elementos do ambiente onde os personagens se encontram para descrever suas ações e muita figura de linguagem para expressar os acontecimentos da obra. Jasmim é maquinista, num tempo que os trens passavam de cidade em cidade no interior levando pessoas, produtos e etc. Mas logo fica claro que além de tudo isso, ele sempre se permite viver intensamente algum romance em cada parada feita.


O comportamento de Jasmim incomoda quem lê, nos tirando da zona de conforto já que ele é um jovem que, ao longo de toda obra, vive um compromisso fixo com Pérola Maria, noiva, esposa e mãe de seus filhos, ao menos, dos que ele tem por legítimos. Me lembro de começar a história buscando elementos da nossa realidade: a revolta com a traição descarada, a exposição dos erros dele, alguma reprimenda e por aí vai. Porém, o que recebi foi um tapa ao longo da leitura, que escolheu continuar seu fluxo como um rio, apenas relatando o que eram os acontecimentos, e não buscando criar um caminho longe da realidade. E convenhamos, há não muitos anos atrás, muitas mulheres, principalmente de classes mais baixas, não se revoltam com traições descaradas, principalmente ao ter em mente o ditado do “ele sempre volta pra mim, que sou a esposa”.


Pérola Maria, mulher de Fio Jasmim, é uma figura complexa que, no pouco que aparece, demonstra uma face única. A autora consegue criar nela um conceito não só de esposa dedicada, como o de uma pessoa que descobre o que lhe agrada e não se deixa abalar com as conversas externas. Foi com ela que vi mais uma grande lição na obra, já que a mesma não se deixava levar por algo que lhe tiraria o que lhe era querido: a felicidade de parir.


Um dos detalhes que me conquistou foi a maneira como a autora conseguiu transmitir sentimentos, dores, perdas e acontecimentos do momento, usando elementos distintos de cada uma das personagens que a história explora. Como, por exemplo, a mulher que vivia em uma cidade de laranjais, onde a autora usou elementos da plantação e era como se eu pudesse sentir o cheiro da fruta ao ler a passagem. Todo o cuidado e as colocações eram bem trabalhadas, nos fazendo criar laços com os personagens ao longo da leitura.


O livro todo foi um grande desafio, mas me conquistou a cada narrativa das aventuras dos personagens, cada filho perdido ou mulher que logo ficava em uma cidade passada. Quando deixei minhas visões revoltosas pessoais de lado e apenas aceitei a história como ela era, seguindo como se fosse um relato de vida, consegui apreciar muito mais como a autora trabalha os detalhes.


Recomendo que mesmo que você não seja um vestibulando, leia a obra. Quem ama literatura conseguirá apreciar os detalhes do enredo da autora. Sem dúvidas, se tornou um dos meus favoritos e me senti grata pela escolha da banca acadêmica em colocar essa obra tão intensa, complexa e com cara de Brasil, no vestibular.


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